É possível observar aves a olho nu? É sim. Até porque existem muitas nuances que ajudam a identificar uma ave, mesmo que a distância. O tamanho, a silhueta, a maneira como voa ou se move pela folhagem, as vocalizações… Além disso, no ambiente urbano as aves estão mais acostumadas com a presença das pessoas e permitem maior aproximação. Mas que os binóculos são os melhores companheiros de um observador de aves, isso ninguém nega. Infelizmente, adquirir um binóculo (ou uma luneta) pode ser algo bastante dispendioso, principalmente aqui no Brasil. Quase ou possivelmente todos os equipamentos do tipo são importados. Por isso, pense bastante antes de comprar. Pesquise, experimente, pegue emprestado, teste vários modelos antes de se decidir.
Um binóculo nada mais é do que dois monóculos combinados. A vantagem é que, utilizando os dois olhos ao mesmo tempo, temos uma visão tridimensional, com profundidade, diferente do que podemos ver através do visor de uma câmera fotográfica, por exemplo.
Geralmente a luneta é menos utilizada para observar aves porque é grande, pesada e ainda precisa ser acoplada a um tripé. Porém, ela apresenta maior capacidade de ampliação do que um binóculo. Lunetas podem ser muito úteis para observar aves em ambientes mais abertos, como campos rupestres e litoral. Alguns guias levam uma luneta a fim de auxiliar seus clientes em saídas para observação de aves. Lunetas são particularmente úteis para observar aves com crianças, pois elas têm mais dificuldade em manusear os binóculos.
Partes de um binóculo

Lentes oculares → São as lentes que aproximamos de nossos olhos. São responsáveis pelo grau de ampliação da imagem captada pelas lentes objetivas. Alguns binóculos têm olhais de borracha, um tipo de anel protetor (também chamado de “eyecup“) acoplado às lentes oculares. Esse anel móvel deve ser puxado ou rosqueado para cima antes de utilizar o equipamento. Essas peças reduzem a entrada de luz lateral e dão mais conforto para observar. Observação: caso utilize óculos, mantenha os olhais retraídos.
Lentes objetivas → São as lentes que captam a luz que formará a imagem a ser observada. Quanto maiores essas lentes (a medida é dada pelo diâmetro em milímetros), maior é a entrada de luz e mais definida é a imagem.
Regulagem do foco → É uma roda que permite alterar a distância entre as lentes, ajustando o foco da imagem. Alguns binóculos têm foco fixo e não permitem esse ajuste (esses modelos não são muito indicados para birdwatching).
Ajuste de dioptria → Permite compensar a diferença na acuidade visual de cada olho. Geralmente encontra-se do lado direito do binóculo.

Na foto acima, em destaque, temos a roda de ajuste do foco, onde estão impressos os detalhes técnicos deste modelo. “Phase coated” significa que as lentes possuem uma cobertura antirreflexiva que melhora a captação de luz. Os números 8 × 32 indicam que esse binóculo aumenta a imagem em 8 vezes, e suas lentes objetivas têm 32 milímetros de diâmetro. “Field 7.5°” refere-se ao campo de visão angular que esse modelo apresenta. “Waterproof” significa que esse binóculo é à prova de água. Repare que o olhal (eyecup) está na posição de uso na lente ocular direita, e recolhido na lente ocular esquerda. O ajuste de dioptria encontra-se do lado direito.
Como utilizar um binóculo?
Antes de tudo, é preciso regular o binóculo para que ele atenda às condições específicas da pessoa que vai utilizá-lo. Pessoas que utilizam óculos não devem retirá-los, pois o ajuste e o uso do binóculo é feito em conjunto com os óculos.
- Entre os dois monóculos há uma dobradiça que permite alterar a distância entre eles. Ajuste essa distância de acordo com a distância entre os olhos. As duas imagens circulares observadas inicialmente devem se sobrepor totalmente, até formar uma única imagem.
- Escolha um objeto de referência ao longe e, com os dois olhos abertos, ajuste o foco até que a imagem fique bem nítida.
- Caso a imagem não fique totalmente nítida, ajuste a dioptria.
Observar aves com o auxílio de um binóculo pode ser cansativo no começo, principalmente porque elas se movem rapidamente, mas logo você se acostuma. Sugestão: ao localizar uma ave, fixe o olhar nela e só depois levante o binóculo até a altura dos olhos. Assim, você não a perde de vista. Pode ser necessário ajustar o foco constantemente, conforme a ave se move.
Atenção: nunca olhe para o Sol utilizando um binóculo ou luneta!
Como escolher um binóculo?
De modo geral, binóculos com ampliação de 7 a 10 vezes são os mais indicados para observar aves. Ampliações maiores tornam difícil a tarefa de localizar a ave e a imagem oscila demais (seria necessário utilizar um tripé). Aumentos de 15 vezes ou mais são indicados para astronomia. Mas, além do aumento, existe uma infinidade de detalhes técnicos que podem influenciar na escolha de um binóculo. Segue uma breve explicação sobre os aspectos mais importantes a se levar em consideração:
Diâmetro da objetiva → Quanto maior a objetiva, mais luz entra e melhor é a resolução da imagem obtida. Por exemplo, um binóculo 7 × 50 oferece mais resolução que um modelo 7 × 35.
Revestimento das lentes → Existem vários tipos de revestimento que evitam reflexos e melhoram a qualidade da imagem. O revestimento pode ser feito em apenas uma superfície da lente, ou em ambas. Existe um revestimento especial vermelho (Rubicom) que é indicado para ambientes muito claros, como praias.
Tipos de binóculos → Antigamente todos os binóculos eram do tipo “porro”. Hoje existem também os binóculos tipo roof, que são mais complexos, mais leves e geralmente mais caros. Um modelo não é necessariamente melhor que o outro, uma vez que há muitos detalhes (como a qualidade das lentes e dos prismas) que influenciam no seu funcionamento.


Peso → Antes de comprar um binóculo, verifique se ele não é muito pesado. Afinal, você vai passar horas com ele pendurado no pescoço. Os binóculos do tipo roof costumam ser mais leves.
Marcas → Existe uma infinidade de empresas que fabricam binóculos. Algumas são excelentes, mas também são absurdamente caras: Leica, Swarovski, Nikon, Celestron… Difícil recomendar uma marca em especial. A sugestão é testar vários modelos até decidir por um que agrade e caiba em seu bolso.
Binóculos para crianças → Um binóculo comum não é muito adequado para crianças, porque elas têm o rosto menor. Existem modelos específicos para crianças, mas é difícil comprá-los no Brasil.
Lunetas
Também conhecidas como telescópios terrestres, as lunetas não substituem os binóculos, mas são especialmente interessantes para observar aves que estão empoleiradas a distância, monitorar bandos de aves limícolas ou ninhos (dos quais não devemos nos aproximar muito). O poder de ampliação de uma luneta geralmente varia entre 15 e 60 vezes, dependendo do modelo. Por isso, e também devido ao peso, esse equipamento precisa ser acoplado a um tripé.

Em alguns modelos, a lente ocular encontra-se alinhada com o corpo da luneta. Em outros modelos a ocular encontra-se inclinada em 45 graus (como a luneta da foto acima), sendo mais confortável para o observador.
Digiscoping
Esse é o nome dado para a técnica de fotografia que utiliza uma câmera digital (geralmente a câmera de um celular) e o auxílio de uma luneta ou até mesmo de um binóculo. Ou seja, você fotografa a imagem ampliada que aparece na lente ocular. Dá para fazer algumas gambiarras ou comprar um kit específico para adaptar o celular à luneta. Uma vantagem é utilizar o celular como um grande visor em tempo real, permitindo que várias pessoas possam observar a tela sem haver o risco de contaminação dos olhos por vírus e bactérias que podem ficar alojados nas oculares.
Limpeza
Utilize uma flanela limpa e seca, fabricada com material específico para limpar lentes (como aquelas que utilizamos em óculos) para retirar o pó das lentes oculares e objetivas. Não esfregue com força, para não arranhar as lentes. Evite qualquer tipo de produto de limpeza, pois pode danificar o revestimento das lentes. Cuidado extra para não sujar o binóculo ou a luneta com protetor solar ou repelente, pois essas substâncias podem prejudicar as lentes e o revestimento emborrachado do equipamento.
Binóculo molhado? Seque o equipamento da melhor forma possível e o deixe exposto ao ar, longe da umidade, por alguns dias. Não coloque sob o sol. Para acelerar o processo, você pode manter o binóculo em um saco com sílica-gel (há quem use arroz cru), bem fechado. Se, depois disso, ele ainda estiver com as lentes embaçadas, será preciso procurar a assistência técnica. Não demore muito para solicitar a manutenção, pois a umidade leva à formação de fungos nas lentes. O mesmo vale para câmeras fotográficas, que, como qualquer equipamento eletrônico, devem permanecer desligadas até termos certeza de que eliminamos toda a umidade, sob o risco de queimar os circuitos eletrônicos. Por isso, retire a bateria o quanto antes.
Em caso de queda, as lentes podem ficar desalinhadas. Não tente desmontar o binóculo ou consertá-lo por conta própria, pois isso é trabalho para um especialista.
Bibliografia consultada
Freitas, R. G. M. Perguntas e respostas sobre binóculos. Razão Focal Óptica Avançada. Acesso em set. 2023.
Sigrist, T. (2014) Prática e técnicas de observação de natureza. Avis Brasilis, 228 p.