Final de semana passado esfriou, choveu e não me animei a por o pé pra fora de casa. Resultado: estourei pipoca e assisti os oito episódios do documentário Nosso Planeta, um dos últimos lançamentos da Netflix.
Adoro documentários de natureza, mas tenho visto poucos. Geralmente aqueles que mais me interessam não estão disponíveis para streaming ou o acesso é restrito no Brasil. Por exemplo, The Messenger foi lançado em 2015 e ainda não consegui assistir. Só por esta razão o documentário Nosso Planeta ganha vários pontos positivos pelo simples fato de estar em uma plataforma de streaming bastante popular e disponível para 190 países. Com esta estratégia, os produtores da série esperam alcançar um público de um bilhão de pessoas.
O documentário tem cenas belíssimas, mostrando desde insetos minúsculos até o gigante dos mares, a baleia-azul. Fiquei particularmente maravilhada com os imensos cardumes de atuns, anchovas e peixes-lanterna que aparecem no episódio “Oceanos além das fronteiras”. Mas é claro que vou falar das aves! Nosso Planeta traz alguns registros inéditos de aves-do-paraíso, feitos em parceria com o Birds-of-Paradise Project na Nova Guiné. Este vídeo começou a circular alguns dias antes do lançamento do documentário e acho que quase todo observador de aves viu inúmeros compartilhamentos nos grupos do WhatsApp. O mais interessante destas filmagens é poder observar o comportamento do macho sob a perspectiva da fêmea.
As aves-do-paraíso certamente roubaram a cena, principalmente com a divertida seleção musical que acompanha os passos de dança dos machos. Mas muitas outras espécies de aves figuram no documentário. As que têm mais destaque são:
- Colônia com MILHARES de biguás-do-guano (Phalacrocorax bougainvillii) e atobás-peruanos (Sula variegata), na costa do Peru
- Colônia de flamingos-pequenos (Phoeniconaias minor) em uma lagoa temporária na África
- Displays de vários priprídeos, entre eles o brasileiríssimo tangará-dançarino (Chiroxiphia caudata)
- Pinguim-gentoo (Pygoscelis papua), pinguim-rei (Aptenodytes patagonicus), albatroz-gigante (Diomedea exulans), albatroz-de-sobrancelha (Diomedea melanophris), petrel-gigante (Macronectes sp) e alma-de-mestre (Oceanites oceanicus), nas águas geladas da Antártida
- Ninho e filhote de águia-das-filipinas (Pithecophaga jefferyi), espécie criticamente-ameaçada e endêmica das Filipinas
- Dezenas de águias-carecas, espécie também conhecida como águia-americana (Haliaeetus leucocephalus), pescando no Alasca
- Colônia de pelicanos-australianos (Pelecanus conspicillatus) no lago Eyre, Austrália
- Migração do grou-canadense (Grus canadensis) na América do Norte
- Calau-bicórnio (Buceros bicornis), nas florestas tropicais da Índia
Por trás das belas imagens, Nosso Planeta tem como objetivo mostrar os efeitos das mudanças climáticas sobre o planeta e todos os seus habitantes. Os episódios são narrados pelo inigualável David Attenborough, que aos 92 anos de idade nos alerta (mais uma vez) para a importância de revertermos o quadro o quanto antes:
Conexões cruciais estão sendo interrompidas por todo o planeta. O equilíbrio do qual toda a vida e nós dependemos está se perdendo. O que faremos nos próximos 20 anos determinará o futuro de toda a vida na Terra.
Ao contrário de muitas produções do tipo, Nosso Planeta é um bocado pessimista. Exibe os majestosos elefantes-africanos, mas também aponta para o elefante em nossa sala (analogia que descaradamente roubartilho do jornalista Ed Yong, que publicou uma excelente crítica sobre o documentário no jornal The Atlantic, em inglês).
PS: Não deixe de assistir o vídeo extra que mostra os bastidores da produção, que é tão ou mais interessante que o próprio documentário. Afinal, Nosso Planeta é o resultado de 400 mil horas de filmagens feitas com câmeras trap, 6.600 voos de drone e 2 mil horas de mergulho, entre outros números astronômicos. Ao todo, o documentário levou quatro anos para ser concluído.