Ano passado, a bióloga Renata Beco me procurou para uma tarefa inusitada: ela precisava de modelos de aves para utilizar em um experimento científico. Como seria necessário um grande número de modelos, a ideia era produzi-los em uma impressora 3D, assim ficariam todos padronizados. Mas onde conseguir os arquivos necessários para esse tipo de impressão?
Eu trabalho na Biosphera3D e uma das coisas que a gente faz por lá é justamente modelagem em 3D, para diversos fins. Seguimos as instruções da Renata para modelar os passarinhos e, depois, com os arquivos em mãos, os modelos foram impressos e pintados manualmente por ela, um a um. Que trabalhão que deve ter dado!
Esses dias, a Renata me mostrou os primeiros resultados do experimento. As aves investigadas pertencem à família Thamnophilidae, que inclui as chocas, papa-formigas e formigueiros. Este aí da foto acima é o modelo de um macho de formigueiro-assobiador (Myrmoderus loricatus), uma das espécies incluídas nos testes. Essas espécies foram escolhidas porque apresentam uma mancha branca nas costas, que costuma estar escondida. Possivelmente, essas manchas brancas são exibidas durante a defesa do território, e essa é uma das coisas que a Renata está tentando desvendar. Em especial, ela quer entender como essas manchas são utilizadas e reconhecidas pelas fêmeas. Por isso, a mancha branca está em evidência em alguns modelos de fêmeas e em outros não.

Dois modelos (um macho e uma fêmea) são inseridos no território de um casal, que é então atraído com playback. Quando o casal se aproxima dos modelos, a Renata desliga o playback e registra todo o comportamento das aves na presença dos supostos invasores. Parece simples, mas, como todo experimento, é preciso fazer várias repetições para garantir uma boa amostragem. Além disso, os testes são feitos com diferentes combinações de “invasores” (fêmeas com ou sem manchas brancas), o que aumenta ainda mais a complexidade das análises.
Os resultados? Saberemos em breve, quando a Renata finalizar esses e outros experimentos e defender seu doutorado pelo departamento de Ecologia e Evolução da Universidade do Tennessee. Por enquanto, você pode dar uma espiada numa postagem que ela fez recentemente com fotos de várias etapas do projeto, neste link.
>> Este projeto foi aprovado pelo comitê de ética de uso animal da Universidade do Tennessee e pelo SISBIO.