A caturrita (Myiopsitta monachus) é o periquito mais conhecido da Argentina, onde recebe o nome de cotorra. Também é nativa do Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil (onde é encontrada principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul). Bicho simpático, a caturrita é muitas vezes capturada para ser criada como pet. Não bastasse o mal causado pela retirada das aves da natureza, o comércio permitiu que esta espécie se espalhasse por países da Europa e da América do Norte.
Em 1975 a caturrita foi observada pela primeira vez na Espanha. Em 2015, 40 anos depois do primeiro registro, um censo coordenado pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/BirdLife) contabilizou cerca de 20.000 caturritas vivendo em liberdade no país.
Barcelona e Madrid são as cidades onde a espécie é mais abundante. De fato, estive em Barcelona este ano e é muito fácil encontrar caturritas nas praças e parques da cidade. No Parc de la Ciutadella fotografei algumas caturritas que estavam com colares de identificação. Descobri que estas aves fizeram parte de um monitoramento realizado entre 2003 e 2009 por pesquisadores do Museu de Ciências Naturais de Barcelona.
O monitoramento demonstrou que as caturritas são mais abundantes em bairros arborizados, pois dependem das árvores para obter alimento e para nidificar (a caturrita é o único psitacídeo que constrói ninho com galhos, as demais espécies utilizam ocos de árvores, buracos em barrancos ou cupinzeiros). Os pesquisadores também descobriram que muitas pessoas oferecem alimento para as caturritas, favorecendo sua proliferação nas áreas urbanas. É difícil não se afeiçoar a estas aves amigáveis e barulhentas, o que acaba dificultando ainda mais o controle de suas populações, que só vem aumentando.
Infelizmente a caturrita não é um caso único. Outros periquitos exóticos podem ser encontrados na Espanha e em diversos países da Europa, assim como nos EUA. Em Londres o psitacídeo mais comum, e que causa maior preocupação, é o periquito-de-colar (Psittacula krameri), ave nativa da África e Ásia.
O problema é que espécies invasoras como estes periquitos constituem uma ameaça potencial para a fauna nativa. Começa a existir uma competição por recursos alimentares e, no caso do periquito-de-colar (que faz o ninho em ocos de árvores), por locais adequados para nidificar. O assunto é tão sério que em 2014 foi criado um comitê especial chamado ParrotNet. Sua missão é avaliar tanto os impactos ecológicos quanto os econômicos (existe a preocupação de que estas espécies se tornem uma praga agrícola) causados por periquitos invasores na Europa e propor medidas para mitigar o problema.
Invasões biológicas são consideradas hoje a segunda maior causa de perda de biodiversidade no planeta, sendo a primeira a destruição dos habitats. Claro, periquitos não são os únicos responsáveis, há uma lista enorme de animais, plantas e até mesmo microrganismos que começaram a causar prejuízos ambientais depois que foram levados para fora de sua área de distribuição original. Aqui no Brasil quase metade das áreas protegidas sofre com espécies exóticas invasoras, como o javali, o caramujo-gigante-africano, a uva-do-japão, o lírio-do-brejo e o capim-gordura, assim como cães, gatos, coelhos e peixes ornamentais.
Literatura consultada
Martín Pajares, M., 2005. La cotorra argentina (Myiopsitta monachus) em la ciudad de Madrid: expansión y hábitos de nidificación. Anuario Ornitológico de Madrid 2005, 76-95.
Ministério do Meio Ambiente, 2009. Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras.
Oliver, B., 2017. Exotic and colourful – but should parakeets be culled, ask scientists. The Guardian, 01 Jul 2017.
Planelles, M., 2015. La plaga de cotorras argentinas llega a los 20.000 ejemplares en España. El País, 11 Nov 2015.
Rodríguez–Pastor, R., Senar, J. C., Ortega, A., Faus, J., Uribe, F. & Montalvo, T., 2012. Distribution patterns of invasive Monk parakeets (Myiopsitta monachus) in an urban habitat. Animal Biodiversity and Conservation, 35.1: 107–117.
Senar, J. C., Carrillo-Ortiz, J., Arroyo, L., 2012. Numbered neck collars for long-distance identification of parakeets. Journal of Field Ornithology, 83.2:180–185,
Senar, J. C., Domènech, J., Arroyo, L., Torre, I. & Gordo, O., 2016. An evaluation of monk parakeet damage to crops in the metropolitan area of Barcelona. Animal Biodiversity and Conservation, 39.1: 141–145.
1 Comentário
A simpática caturrita
Essa ave é muito comum no Brasil e na América do Sul, e também tem o nome popular de cocota, periquito barroso e papo branco. Seu nome científico é Myiopsitta monachus. Ela se alimenta basicamente de frutos, verduras, flores e brotos.
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