Sempre que estou em São Paulo aproveito para dar um pulo no Ibirapuera. É um ótimo lugar para fazer uma boa caminhada e observar aves. Este ano tive a oportunidade de participar de uma passarinhada por lá organizada pelo biólogo Pedro Cristales e recomendo muito! Como o parque é enorme, nada melhor do que contar com a ajuda de alguém que conhece cada cantinho e sabe exatamente onde os bichos estão. E mais: ganhei dois mapas incríveis para explorar o parque, criados pelo movimento Parque Ibirapuera Conservação: um sobre a flora e a avifauna e outro com estátuas, monumentos e curiosidades do Ibirapuera (quem quiser pode baixar os mapas gratuitamente nos links).
Os mapas funcionam como uma verdadeira caça ao tesouro. Semana passada passei um dia inteiro perambulando pelo Ibirapuera e consegui encontrar uma boa parte dos itens assinalados. Alguns são icônicos e todo paulistano já ouviu falar: o obelisco, a ponte de ferro, a marquise projetada pelo Oscar Niemeyer (que está vergonhosamente interditada e aguardando manutenção faz muito tempo). Outros são relíquias do passado e podem ser difíceis de localizar, como a lápide de um cachorro chamado Pinguim e a pedra fundamental que marca a inauguração do parque.
Foi um desafio usar um mapa físico para localizar as estátuas e monumentos. Nem sei quando foi a última vez que tinha feito isso: abrir um grande mapa de papel e procurar referências para me situar. Foi como voltar no tempo, quando não existia nem GPS e nem smartphone. Confesso que em alguns momentos desejei que a localização do que quer que eu estive procurando estivesse disponível no Google Maps, mas a verdade é que desse jeito não teria graça nenhuma. A diversão está em desvendar o mapa e aprender a olhar para o parque de outra maneira.
Pouco a pouco fui entendendo melhor os caminhos do Ibirapuera e até descobri alguns pedacinhos do parque por onde acho que nunca havia passado. Eu sempre entro pelo portão 4 e nunca tinha me dado ao trabalho de explorar adequadamente a região dos portões 5 e 6, logo ao lado. É por ali que encontram-se as belas figueiras-de-bengala.
Em geral as árvores indicadas no mapa são mais difíceis de encontrar do que as estátuas ou os monumentos. A maioria das árvores do parque estava sem placa de identificação, me deixando na dúvida se eram realmente as mesmas espécies assinaladas no mapa. Afinal, o que não falta no Ibirapuera são árvores. Tentar identificá-las foi um exercício interessante. Fiquei abismada com o tamanho da figueira-asiática que fica ao lado da antiga serraria (há quantos anos será que ela foi plantada ali?) e encantada com o efeito tipo “pátina” do tronco do pau-ferro.
O Ibirapuera também é lugar de arte. O Museu de Arte Moderna localiza-se dentro do parque e há um Jardim de Esculturas logo ao lado, a céu aberto. Não muito longe dali encontra-se a obra “Poesia não tem hora”, com textos selecionados de vários autores. Encontrei as palavras cobertas pelas folhas secas do outono, então não tinha como ser mais poético.
Mas e as aves, Natália? Não vai falar delas? Claro que vou! Já faz um tempo que montei uma galeria de fotos das aves do Ipirapuera, com registros que fui juntando ao longo dos anos. Mas faltam muitas espécies, porque raramente levo câmera fotográfica quando vou lá. Por preguiça mesmo, e também porque infelizmente o pessoal da segurança do parque sempre implica com observadores de aves… Esse é um assunto chato e que vira e mexe volta a tona. Para evitar problemas, sugiro andar com essa autorização permanente para fotografia de aves em parques públicos do município de São Paulo.
O mapa sobre flora e avifauna tem ótimas dicas sobre onde encontrar as espécies de aves mais comuns do Ibirapuera. Dá para obter informações sobre a maioria delas neste guia produzido pela Prefeitura do Município de São Paulo. E para quem tiver curiosidade, aqui tem uma lista com as mais de 200 espécies de aves que já foram registradas por lá.
Os lagos do Ibirapuera são ótimos para quem está começando a observar aves. Tem muito bicho lá, e como as aves aquáticas são maiorzinhas, dá para curtir bastante mesmo sem binóculos. Dá para encontrar uma grande variedade de garças e patinhos. Procure também pelo mergulhão-caçador, uma espécie que você não encontra em qualquer lago por aí, mas que é bem fácil de observar lá.
De manhã bem cedo dá para ver bandos de papagaios sobrevoando o parque. Curiosamente, o papagaio-verdadeiro não é uma ave nativa de São Paulo. Acredita-se que a população de papagaios paulistanos tenha se originado de aves em cativeiro que fugiram ou foram deliberadamente soltas.
Eu particularmente sou fã de pica-paus e sempre gosto de encontrar um por lá. Acho que o mais comum no Ibirapuera (ou talvez em toda a cidade de São Paulo) é o pica-pau-de-cabeça-amarela, também chamado de joão-velho.
Este ano, durante a passarinhada organizada pelo Pedro, observei pela primeira vez uma coruja-orelhuda no parque! Não chega a ser uma espécie rara, mas é bastante difícil de encontrar porque essa ave tem hábitos noturnos. De dia fica quietinha, dormitando num galho alto, bem camuflada. Pra quem não conhece, imagine uma corujona com uns 40cm, bem maior que uma coruja-buraqueira, por exemplo. É sempre uma alegria encontrar esse bicho!
Enquanto escrevia, revisei os dois mapas e descobri que ainda tem muita coisa pra ver lá no Ibirapuera. Deixei passar algumas estátuas e tem muita árvore nativa que preciso conferir a identificação. Os passarinhos então, serão uma desculpa eterna pra visitar o Ibirapuera: em todos esses anos não consegui ver nem metade das espécies que já foram registradas por lá. Bora passarinhar?
4 Comentários
Boa noite.
Eu nunca dei sorte de fotografar uma coruja aqui em São Paulo. Você tem alguma dica de lugares onde eu possa encontrá-las na cidade (moro em São Paulo)?
Oi Roberto!
As corujas até que são comuns na cidade, mas como ficam escondidas de dia fica difícil de encontrar. E pra atrapalhar elas vão mudando de poleiro com o tempo. A coruja-orelhuda que eu vi no Ibirapuera, por exemplo, não está mais utilizando o mesmo poleiro (mas pode ser que volte algum dia). Dias desses me disseram que o mocho-diabo foi visto por lá. O Ibirapuera, o Butantã e o Jardim Botânico são lugares onde elas costumam ser vistas com frequencia. Vale a pena dar um perguntada pros funcionários destas áreas verdes, as vezes eles sabem dizer onde elas estão no momento.
Boas passarinhadas!
Bom dia, Como acho esse pica- pau de cabeça amarela e o tucano de bico verde além do cardeal ?
As aves estão sempre em movimento, então é preciso andar pelo parque e procurá-las! Como citei no texto, o Pedro costuma organizar passarinhadas lá no Ibirapuera, vale a pena participar de uma.