Este é o primeiro de uma série de posts que pretendo escrever sobre a Patagônia. Tive o prazer de conhecer a região, ainda que rapidamente, no final de 2013. Durante uma semana ziguezagueamos pela fronteira Argentina-Chile e conhecemos El Calafate, Puerto Natales, o famoso parque Torres del Paine, Punta Arenas e a pequena Isla Magdalena e seus encantadores pinguins-de-magalhães.
Vou começar falando sobre o único lugar que não estava em nosso roteiro original e que descobrimos por acaso em El Calafate, na Argentina. A Reserva Natural Laguna Nimez é formada por duas pequenas lagoas, espremidas entre a cidade e a margem sul do grande “Lago Argentino”. A área é pequena, o percurso demarcado não deve ter nem 3 km. Mas sua importância é tamanha para as aves que a reserva é considerada uma IBA pela BirdLife International desde 2008.
Cerca de 100 espécies de aves podem ser encontradas lá. Encontrei uma lista delas neste link. Entre as mais ameaçadas, estão o flamingo-chileno (Phoenicopterus chilensis), a batuíra-de-magalhães (Pluvianellus socialis) e a saracura-austral (Rallus antarcticus). Várias espécies também ocorrem no Brasil, principalmente na região sul. A maioria eu nunca tinha visto, então usei e abusei do meu recém adquirido Guía de identificación de las aves de Argentina y Uruguay que, aliás, é muito bom. Também foram de grande ajuda as várias placas com informações, espalhadas ao longo da trilha autoguiada. Ainda assim, se alguém perceber algum erro de identificação, por favor avise!
Quando chegamos na reserva já passava das 18h, mas no verão anoitece muito tarde na região então deu para aproveitar bastante. O que mais dificultou foi o vento, o famoso vento patagônico. Não estava frio, mas o vento era cruel. Eu vestia gorro, luvas e várias camadas de roupa, mas nada parecia suficiente. Claro que entre um lifer e outro você esquece tudo isso. A maioria das aves permitiu muita aproximação, já bastante acostumadas com o grande número de turistas. Mesmo com aquele vento haviam várias pessoas caminhando na trilha e curtindo as cores do fim do dia.
Uma vantagem do vento (a única!) é que as aves maiores ficam pairando, quase paradas no ar. Fica bem mais fácil fotografá-las em pleno vôo! Quando entramos na reserva uma funcionária avisou que em um trecho da trilha haveriam muitos “rapaces” (aves de rapina). Dito e feito, em uma área tomada pelos juncos encontramos muitos, mas muitos chimangos (Milvago chimango). Adultos, jovens, filhotões. Em menor número, alguns gaviões-cinza (Circus cinereus) sobrevoavam e de vez em quando arrumavam encrenca com os chimangos.
Dois abrigos permitem observar as aves com a maior comodidade (ou seja, longe do vento!). Deles fica fácil ver a grande variedade de anatídeos nas lagoas, entre eles a marreca-oveira (Anas sibilatrix), a marreca-colhereira (Anas platalea), a marreca-pé-na-bunda (Oxyura vittata) e o “pato crestón” (Lophonetta specularioides). Os mais abundantes são os “cauquéns” (Chloephaga picta), uma ganso muito comum na Patagônia, vi em praticamente todos os lugares que visitamos. O macho é branco e a fêmea marrom.
A curicaca-de-colar ou curicaca-austral (Theristicus melanopis) é outra espécie que vi pela primeira vez em Laguna Nimez, e depois descobri que é bem comum na região. Duas espécies que ocorrem apenas no sul do Brasil mas que fui conhecer na Argentina são o colegial (Lessonia rufa) e o caminheiro-de-espora (Anthus correndera).
Saímos da reserva quando já estava escuro, depois das 22h. Infelizmente neste horário já não havia mais ninguém na guarita da entrada, teria adorado bater um papo e conhecer mais sobre o lugar e sua administração. Se eu soubesse da existência desta reserva antes, teria reservado uma manhã inteira, no mínimo, para explorá-la com calma. O lugar é lindo!
7 Comentários
Muito bacana seu post. Deu vontade desconhecer essa reserva linda!!! As fotos estão excelentes!!! Muito bom!
Obrigada Ana! Viajar pela América do Sul é realmente uma experiência fantástica, recomendo a todos!
Obrigado pelo post. Achei navegando no Google. Vou passar alguns dia por lá no fim do ano e fiquei contente de saber que existe esse lugar tão próximo ao meu hotel onde poderei passarinhar. O acesso é fácil e livre a essa reserva natural?
Olá Celso! Que bom que o post foi útil! :)
O acesso é muito fácil, a reserva é praticamente dentro da cidade, dependendo de onde você estiver da para ir a pé. Tem uma taxa de entrada, não é caro. A trilha é pequena mas tem uma grande variedade e quantidade de aves. Tenho certeza que você vai gostar!
Obrigado!
Adorei seu texto e dicas. Estou indo para El Calafate em abril/2015 e vou aproveitar tudo o que você postou aqui.Não deve ter tantas aves como em dezembro, mas será bem legal conhecer e clicar as aves de lá. Obrigada e meus parabéns!
Obrigada Silvia! Espero que você goste de lá tanto quanto eu gostei. Não vejo a hora de voltar!