Chiang Mai fica no norte da Tailândia. Bastante moderna e com preços muito acessíveis, a cidade atrai pessoas de todo o mundo, que vem à passeio, à trabalho ou em busca de uma aposentadoria tranquila. Uma infinidade de co-workings (espaços de trabalho) e pequenos cafés tornam Chiang Mai um verdadeiro paraíso para quem pode trabalhar remotamente, os chamados “nômades digitais”.
Passei três meses morando e trabalhando lá. Foi uma oportunidade única para observar aves do sudeste asiático. A apenas 75 km ao sul de Chiang Mai encontra-se o Parque Nacional Doi Inthanon, lugar muito procurado por birdwatchers. Outra opção bacana é a região de Chiang Dao, 70 km ao norte. Mas não é preciso ir longe para ver aves. Chiang Mai é uma cidade cheia de áreas verdes e com um pouco de atenção dá para encontrar muitas espécies vivendo lá.
Mesmo a pessoa mais distraída não vai deixar de notar o grande número de Common Mynas e White-vented Mynas nas ruas. Ao entardecer eles se agrupam em bandos numerosos e barulhentos. É fácil reconhecer os poleiros de dormida, o chão embaixo fica todo sujo de fezes.
O Oriental Magpie-robin é outra ave muito comum na área urbana. Extremamente dócil, dá pra chegar bem perto dele. O macho é azul e branco, a fêmea é marrom-acinzentada onde o macho é azul. Seu canto é bonito e delicado.
Existem muitas espécies de Bulbuls na Tailândia, mas em Chiang Mai o Red-whiskered Bubul é certamente o mais comum. Sorte nossa, porque na minha opinião é também um dos mais bonitos. Em Abril e Maio vimos muitos filhotes e juvenis, com a plumagem ainda meio amarronzada e o topete curtinho.
Logo pela manhã e no fim da tarde o céu fica repleto de Ashy Woodswallows, um pássaro que lembra um pouco as andorinhas. Assim como elas, eles caçam insetos no ar e se agrupam nos fios de alta tensão para tomar sol.
A pomba mais comum em Chiang Mai, senão em toda a Tailândia, é a Spotted Dove. Ela é um pouco menor que um pombo-doméstico, mas tem a cauda mais comprida. Essa aí da foto escolheu fazer o ninho dentro da boca da estátua de um leão! Outra pombinha fácil de encontrar é a Zebra Dove.
É claro que, como em quase todas as cidades do mundo, não podiam faltar pardais. O Eurasian Tree-sparrow se adaptou muito bem ao ambiente urbano. Ele é um pouco diferente do nosso pardal. No Brasil há somente a espécie P. domesticus. Esta espécie de pardal também pode ser encontrada na Ásia, mas raramente em áreas urbanas.
Um dos lugares mais bacanas para observar aves em Chiang Mai é o Mae Hia Agricultural Research Station. O lugar não é aberto para visitação, mas se você explicar que só quer observar aves é muito provável que o pessoal da portaria autorize a entrada. Estive lá com um guia local de birdwatching e deu para ver muitas espécies. Só para citar algumas, que não são tão comuns na cidade, vimos: Pied Bushchat, Rufous-winged Buzzard, Wire-tailed Swallow, Little Green Bee-eater, além de muitos Red-wattled Lapwings e White-breasted Waterhens.
O pessoal do Lanna Bird Group organiza com frequência “Birdwalks” neste lugar. Infelizmente demorei muito tempo para descobrir este grupo e acabei perdendo os encontros.
O Zoológico de Chiang Mai é outra opção interessante para passarinhar. E não, não estou falando dos animais que estão presos. Existe uma boa área de mata nativa (ou quase) ao redor do zoológico onde dá para encontrar aves como o White-crested Laughingthrush, o Blue Whistling-thrush, a Eurasian Jay e a Asian Barred Owlet.
O zoológico propriamente dito também vale uma visita. É muito grande. Dentro dele há o “Nakornping Bird Park”, um imenso aviário. O maior que já visitei. Tem muitas espécies de pombas raras (como a grande e bela Victoria Crowned Pigeon), além de psitacídeos, patos, pelicanos e outros mais.
Me diverti mesmo foi observando um Tailorbird em liberdade que aproveitou a segurança do aviário para construir ali seu ninho. É uma ave muito pequena, que consegue passar sem dificuldades pela tela de arame do recinto. O ninho explica o nome popular da espécie, que significa “pássaro-alfaiate”. Com muito cuidado, o Tailorbird une duas folhas, costurando as beiradas por cima e por baixo.
Logo ao lado do zoológico fica a Universidade de Chiang Mai, outro lugar muito legal para observar aves. Durante a semana tem muitos carros e muita gente circulando, mas nos fins de semana e feriados é bem tranquilo lá.
Uma ilhota dentro do lago da universidade abriga muitas espécies de garças. Vimos Eastern Cattle Egret, Chinese Pond Heron, Cinnamon Bittern e muitos Black-crowed Night-heron (ave cosmopolita, conhecida no Brasil como socó-dorminhoco ou savacu).
Uma caminhada pela universidade pode revelar muitas espécies de aves. A maioria é difícil de observar, pois fica escondida no alto da copa das árvores, como o Lineated Barbet e o Green-billed Malkoha (que parece uma alma-de-gato só que mais colorido). Nos galhos mais baixos dá para encontrar Mynas, Bulbuls e até mesmo o grande Greater Coucal. Esse parente do cuco impressiona pela incrível habilidade em se camuflar. Como uma ave tão grande pode simplesmente desaparecer em meio as folhas?
Em frente ao Center for Agricultural Resource System Research, dentro da universidade, há uma parcela de terra cultivada. Quando estivemos lá em Maio a plantação de milho havia atraído um bando enorme de Scaly-breasted Munias. Na Tailândia é muito comum encontrar esse pássaro aprisionado, por isso fiquei feliz em finalmente vê-los em liberdade.
Por último mas não menos interessante, outra boa opção para observar aves em Chiang Mai é uma trilha que leva até o templo Doi Suthep. A trilha começa ao lado de uma grande antena, bem próxima à uma entrada secundária do zoológico. A primeira parte da trilha é muito tranquila e dá para ver uma boa variedade de aves. Fiquei encantada com o belíssimo Chestnut-winged Cuckoo e com a grande quantidade de Greater Racket-tailed Drongos.
Em menos de meia hora de caminhada você chega a um pequeno conjunto de templos budistas, no meio da mata. É um lugar muito tranquilo e cheio de aves. A grande estrela é um Forktail que, com um pouco de sorte, pode ser visto perto do curso d’água. Ele deu muita bandeira na primeira vez que fiz a trilha, mas na segunda vez não havia nem sinal dele. Mas me ocupei bastante observando um bando de Pin-striped Tit-babblers que passava por ali naquele momento.
A segunda parte da trilha é pesada: morro acima. Fazia muito calor e sofri bastante para terminar. Não sei se recomendo… Mas chegar lá em cima foi uma vitória e ainda conhecemos o grande templo Doi Suthep. Apesar da multidão (quase ninguém faz a trilha, dá pra chegar lá confortavelmente de carro) encontramos até mesmo um ninho com filhotes de Red-whiskered Bulbul no pátio do templo. Super camuflado, só descobri porque havia me sentado em um banco logo em frente, ainda recuperando o fôlego depois da trilha. Os pais, super cautelosos, só entravam e saíam do ninho quando não havia ninguém passando na escada ao lado.
O Doi Suthep também é lar de muitos Black-crested Bulbus e é um ótimo lugar para observar andorinhas.
Chiang Mai é uma cidade muito turística, com várias facilidades para estrangeiros. Quase todo mundo fala pelo menos um pouquinho de inglês. Mas tudo que foge um pouco da alçada do turista mais usual é difícil de descobrir. Não foi nada fácil encontrar informações sobre lugares para observar aves, contatar guias profissionais ou achar pessoas que pudessem me ajudar na identificação das espécies. Esta foi a maior motivação para escrever este post. Espero que seja útil para alguém!
1 Comentário
Que texto lindo,parabéns!!!