Domingo, cinco horas da manhã. Ainda não há nem sinal do sol e faz tanto frio que a simples tarefa de segurar uma câmera fotográfica torna-se um desafio. O orvalho parece mais molhado do que nunca, encharcando a barra da calça. Um pesadelo? Não é o que pensam os integrantes do grupo, que caminham em silêncio absoluto pela mata. Eles são birdwatchers e estão fazendo uma das coisas que mais amam: procurar aves.
O hobby é antigo, surgiu na Inglaterra e nos Estados Unidos por volta do século 19. Consiste em – nada mais nada menos – observar aves em liberdade. Simples assim. Praças, parques urbanos e áreas de preservação ambiental são lugares perfeitos para a prática. Alguns observadores mais ávidos viajam em busca de espécies raras, das selvas tropicais às montanhas nevadas. Mas não importa se você está observando um tico-tico ou uma maria-leque-do-sudeste (espécie ameaçada de extinção que somente pode ser encontrada na Mata Atlântica), se utiliza potentes binóculos ou observa os pássaros do seu quintal a olho nu. Em essência, observar aves é aprender a admirar estas criaturinhas tão belas. E a sensação de bem estar que vem junto.
Atividades que nos colocam em contato com a natureza proporcionam relaxamento, momentos de reflexão e até mesmo a melhora de funções cognitivas como a memória, concentração e atenção (*). Aliada a estas propriedades terapêuticas, a prática do birdwatching agrega também uma parcela intrínseca de Educação Ambiental. É preciso aprimorar a percepção – tanto a visual como a sonora – para encontrar as aves e aprender a reconhecer as espécies. E conhecer é o primeiro passo para se preocupar em conservar.
Como tantos outros hobbies, o birdwatching também favorece a interação social. Mostrar as fotos da última viagem para os amigos, pedir ajuda na identificação de uma espécie e ouvir histórias antigas de observadores mais experientes são algumas das pequenas coisas que tornam a atividade tão envolvente. Hoje existem até feiras especializadas no assunto, onde é possível assistir palestras, encontrar parceiros para passarinhadas e adquirir material de estudo digno de qualquer estudante de ornitologia (ciência que estuda as aves).
A atividade atrai mais e mais adeptos a cada dia. Gente que está sempre à procura de lifers, nome dado a cada nova espécie avistada ou fotografada e que é adicionada à uma lista pessoal. O desafio é praticamente infindável: só no Brasil podem ser encontradas 1.919 espécies de aves, segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos.