China #1 – Aves de Pequim

Estive na China no mês passado. Não foi uma viagem planejada com o objetivo de observar aves, mas é claro que aproveitei a oportunidade e registrei todas as espécies que consegui encontrar nas cidades que visitei: Pequim e Xangai. As duas metrópoles estão entre as maiores e mais populosas do mundo, mas ainda assim dá para descobrir muita vida silvestre nas suas praças e parques.

Pequim (ou Beijing) é mais verde do que eu imaginava. Capital do país, Pequim já esteve na lista das cidades com o ar mais poluído de todo o planeta. Em 1998, no entanto, o governo chinês iniciou uma série de medidas para melhorar a qualidade do ar na cidade. Entre elas, implementou a arborização urbana. Como resultado a poluição do ar vem diminuindo gradativamente nos últimos anos, mas ainda há muitas pessoas lá que utilizam máscaras no dia-a-dia. Foi triste ler o depoimento de um observador de aves que mora em Pequim (feito em 2015) sobre como a qualidade do ar influencia o planejamento de suas passarinhadas. Por sorte o tempo estava bom quando estive lá e pude aproveitar bastante.

Aves mais comuns de Pequim

Fiquei impressionada com a quantidade de corvídeos (aves da família dos corvos) que observei na cidade. Duas espécies são extremamente fáceis de encontrar: o Oriental Magpie e o Azure-winged Magpie. Eles andam em grupos numerosos e são bastante barulhentos.

OBSERVAÇÃO: Não encontrei nomes em português para todas as espécies de aves que observei na China, por isso vou utilizar nomes populares em inglês aqui no texto. Mas coloquei os nomes em português (quando eles existem) nas legendas das fotos, assim como em inglês e em chinês (só porque acho os ideogramas lindos, não entendo nada!).

Outra ave muito fácil de encontrar em Pequim é o Eurasian Tree Sparrow. Esse passarinho é muito parecido com o pardal que vive nas cidades brasileiras, mas pertence à outra espécie. A diferença mais marcante é a bochecha preta, que o nosso pardal não tem. Nos primeiros dias reparei que os bandos eram formados somente por machos e fiquei intrigada. Fui pesquisar o assunto. Descobri que ao contrário do nosso pardal, que apresenta dimorfismo sexual (ou seja, o macho é diferente da fêmea), o Eurasian Tree Sparrow não apresenta nenhuma variação na plumagem. Macho e fêmea são iguais! Na verdade eu estava vendo bandos com machos e fêmeas, pois não há como distingui-los.

O Chinese Blackbird é um sabiá muito comum na China. Há tantos deles nos parques que chegam a atrapalhar a passarinhada. Você está super atento a todo e qualquer movimento e, em 99% das vezes, é só mais um Chinese Blackbird que está ciscando no chão ou voando de um galho para o outro… Afinal, era primavera e eles estavam em plena estação reprodutiva, super atarefados alimentando os filhotes.

Chaoyang Park

Há muitos parques em Pequim. Não deu para conhecer todos, mas gostei muito do Chaoyang Park. Este parque é bem grande e é super fácil chegar lá de metrô. Aproveitamos que o jet lag nos fazia acordar de madrugada e fomos cedinho lá. O parque abre as 6 horas da manhã.

Uma das primeiras aves que vimos no Chaoyang Park foi a Spotted Dove. Provavelmente é a pomba nativa mais comum desta região da China. Ao contrário do pombo-doméstico, não é tão urbana e prefere áreas mais verdes. É fácil encontrá-la nos parques, mas não nas ruas. Muito tímida, foi difícil chegar perto para fotografar. Outra ave fácil de encontrar neste parque é o Mandarin Duck (ou pato-mandarim, em português).

Era primavera e o Chaoyang Park estava lotado de observadores de aves. Descobri que os chineses gostam muito de fotografar aves e natureza em geral. Na minha primeira visita ao parque topei com um pequeno grupo que fotografava um ninho de Eurasian Hoopoe, esta ave topetuda e super carismática das fotos abaixo. Os pais trabalhavam incansavelmente para alimentar o filhote, que estava abrigado em um buraco na árvore.

Quando estive no Chaoyang Park pela segunda vez encontrei um grupo muito grande de birdwatchers. Ao todo umas 20 pessoas, quase todos homens. Eles estavam atraindo uma ave com playback (uma gravação do canto da espécie) e aguardavam pacientemente ao lado de uma pequena cachoeira. Me aproximei timidamente, tentando cumprimentar todos que dirigiram o olhar para mim com a única palavra que aprendi em chinês (Nihao = Olá!) e fiquei aguardando para ver o que acontecia. Queria muito saber qual era a ave que eles se empenhavam tanto em fotografar, mas ninguém tentou conversar comigo. Fiquei lá uns 40 minutos. A ave misteriosa não apareceu e acabei desistindo. Não sei se foi apenas por causa da barreira linguística (afinal a mímica sempre ajuda, e pelo menos um deles deveria saber um pouquinho que fosse de inglês) mas foi muito decepcionante não conseguir conversar com eles…

Zhongshan Park

Um passeio super turístico e imperdível em Pequim é a Cidade Proibida, construída no século XV. Vale a pena, mas é preciso encarar uma multidão de visitantes! Logo ao lado da Cidade Proibida encontramos o tranquilo Zhongshan Park, ignorado pela maioria dos turistas. Este parque não é tão grande como o Chaoyang Park, mas seus jardins são mais bonitos e é um bom lugar para ver corvos. Grandes e desajeitados, é divertido observar o comportamento deles.

Outra ave que pude observar com toda a calma e tranquilidade no Zhongshan Park foi este estorninho da foto abaixo. Embora o Red-billed Starling seja uma ave urbana bastante comum, é uma das espécies mais bonitas que vi na China. Pequeno, provavelmente passa desapercebido pela maioria das pessoas.

Summer Palace

Procurando no eBird por lugares pra observar aves em Pequim, encontrei o Summer Palace. Atualmente este é um dos hotspots com mais espécies registradas na cidade. Chegamos lá super animados, umas 7h da manhã. Encontramos muitos turistas e pouquíssimas aves. Impossível passarinhar no meio de tanta gente, e olha que o lugar é enorme. O jeito foi admirar as construções antigas e passear na simpática Suzhou Street. Depois, caminhando ao redor do grande lago, deu pra curtir uma família de Great Crested Grebes.

Floresta Olímpica

No nosso último dia em Pequim fomos conhecer a Vila Olímpica, onde fica o famoso estádio em forma de ninho, um enorme complexo aquático e a imensa torre olímpica (que curiosamente foi construída em 2014, bastante tempo depois dos Jogos Olímpicos de 2008). Essas obras monumentais tornaram-se parte da história da cidade, mas talvez o maior patrimônio deixado pelas Olimpíadas seja a Floresta Olímpica: um parque com quase 7 km quadrados, bem no meio da cidade. É uma área enorme, cujas árvores foram todas plantadas pelo homem (ou seja, sua vegetação não é nativa), mas que é habitada por muitas espécies de animais.

Foi lá que consegui fotografar, finalmente, esse pequeno passarinho que não para quieto: o Vinous-throated Parrotbill. Embora seja uma espécie muito comum na China, é um verdadeiro desafio registrá-la com a câmera. Esse aí facilitou um pouco porque estava com o pé machucado, mas parecia estar se virando bem.

De todos os momentos passarinhando na China, o que mais emocionou foi poder observar este Chinese Hwamei cantando. Ficamos ali, de camarote, durante uns 20 minutos. E ele ainda não tinha terminado a cantoria quando começamos a nos afastar. Dias depois descobrimos que esta é umas das aves que os chineses mais gostam, só que dentro da gaiola. Foi aterrador esbarrar com um “encontro” de gaioleiros no Jardim Botânico de Xangai…

Guias de campo

Pequim é uma cidade muito interessante e foi uma experiência fantástica poder conhecer um pouco de sua avifauna urbana. Superou muito minhas expectativas! Por fim, deixo a dica do livro que utilizei para identificar as aves que observei lá: Bird of East Asia, do Mark Brazil (que apesar do nome, é um ornitólogo britânico). Tentei encontrar uma publicação que fosse mais específica da avifauna chinesa ou mesmo de Pequim, mas não tive sucesso. Vale a pena consultar o site Birding Beijing, que tem várias dicas de lugares para passarinhar na região e alguns guias para download gratuito sobre as aves, anfíbios e mamíferos mais comuns da cidade.

O eBird também foi muito útil, pois pude me basear nas listas dos hotspots para poder reduzir o número de espécies a serem consultadas. Lembrando que posso ter cometido erros nas identificações, se alguém perceber algum engano por favor me avise! Tem mais fotos da viagem aqui.