Confesso que li o artigo só por causa do título: “Why fruits go to the dark side?“. Calhou que gostei muito do texto, que tem tudo a ver com ecologia de aves. Para entender é preciso saber um conceito clássico de biologia: síndromes de dispersão. Apesar do nome, síndrome não é uma doença. É um conjunto de características que geralmente ocorrem ao mesmo tempo. No caso das síndromes de dispersão, são atributos dos frutos que dão uma indicação de quais são os prováveis dispersores de suas sementes. O artigo trata de frutos com síndrome de dispersão ornitocórica, que são aqueles dispersos por aves. Existem também síndromes de dispersão anemocórica (vento), quiropterocórica (morcegos), ictiocórica (peixes) etc etc…
Frutos dispersos por aves “precisam” chamar a atenção delas para serem encontrados. Por isso geralmente são bem coloridos e chamativos. Também podem não ser tão perfumados como outros frutos, já que o olfato é pouco desenvolvido nas aves. Ok. Mas, na prática, o que quer dizer que um fruto é vistoso? Lembrando que aves enxergam mais cores do que nós, reles humanos.
Acredita-se que cores bem contrastantes chamem mais a atenção das aves. Isso pode ser obtido com duas ou mais cores num mesmo fruto, ou quando o fruto contrasta bem com o ambiente ao seu redor. Bons exemplos são o mamão (Carica papaya) e a fruta-de-sabiá (Acnistus arborescens). E ai é que entra o autor do artigo e faz algumas perguntinhas capciosas. Se tudo isso fosse verdade, porque existem tantos frutos escuros, roxos ou mesmo pretos? São frutos que não chamam tanto a atenção, mas muitos servem de alimento para aves. Eu mesma estudei uma espécie de planta de cerrado que produz milhares de frutinhos pretos, consumidos por aves. E todo mundo sabe como pássaros adoram uma amoreira carregada…
O que o autor propõe é que lembremos de outros fatores que podem ter influência ao longo do processo de evolução. Um deles é o tamanho do fruto. Frutos grandes são muito chamativos, qualquer que seja sua cor. Outro fator importante, que ganha muito destaque no artigo, são as chamadas antocianinas. Os vegetais possuem três tipos de pigmentos, cada qual com diferentes propriedades e funções: clorofila, carotenoides e antocianinas. As últimas são as responsáveis pela cor escura dos frutos em questão. Mas elas também têm função antioxidante e fungicida. E agora a coisa fica mais interessante! Alguns estudos (poucos ainda, infelizmente) demonstraram que algumas aves preferem frutos mais escuros, justamente por conter mais antioxidantes, importantes para a manutenção do sistema imunológico. Assim, ao longo da evolução, algumas plantas foram favorecidas por fornecer antocianinas aos seus agentes dispersores.
Bacana, não? Incrível como é difícil eleger regras simples (como a clássica definição de síndromes de dispersão) para explicar o comportamento do mundo natural.
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