Recentemente o colombiano Alejandro Rico Guevara e a americana Margaret Rubega desbancaram uma teoria de quase dois séculos. Em 1833 foi proposto que a língua dos beija-flores era formada por dois tubos de pequeno diâmetro, que puxavam o néctar através de capilaridade. Mas, se você assistir o vídeo que eles fizeram, vai perceber que a coisa não é bem assim. Com o auxílio de câmeras de alta velocidade (não deixe de ver o vídeo), os pesquisadores mostraram que na verdade a extremidade distal (final) da língua dos beija-flores é formada por finas lamelas que se “abrem” quando entram em contato com o néctar, capturando-o. E tudo isso acontece em 1/20 de segundo, sem nenhum gasto de energia! O processo é resultado de forças físicas que atuam sobre a superfície do líquido, como a tensão superficial.
Os pesquisadores ainda não descobriram como o beija-flor faz para transportar o néctar que é capturado pela ponta da língua até a garganta. Sabe-se que ele retrai a língua dentro do bico, e que de certa forma ela é “torcida”, mas ainda são necessários mais estudos. O bacana é que ao descartar a antiga teoria, muitas outras premissas podem ser alteradas. Por exemplo, no modelo de capilaridade a concentração ideal de açúcares no néctar deveria ser baixa, em torno de 20 a 40%. Isso porque quanto mais concentrado, mais viscoso é o néctar, dificultando a ação da capilaridade. Na prática os beija-flores preferem flores com néctar mais concentrado, certamente por serem uma melhor fonte de energia.
A nova hipótese sugere que a língua do beija-flor funciona através da combinação entre a ação da tensão superficial, a pressão de Laplace (que é a diferença de pressão entre o lado interno e externo de uma bolha) e as propriedades elásticas dos materiais queratinosos que existem na superfície da língua. Os autores também acreditam que esse autêntico modelo de captura de líquidos poderá futuramente ser aplicado na indústria e na medicina.
Referência:
Rico-Guevara, A. & Rubega, M. (2011). The hummingbird tongue is a fluid trap, not a capillary tube. Proceedings of the National Academy of Sciences, 108 (23), 9356-9360