Há pouco mais de um ano testei alguns aplicativos de identificação de aves e comentei os resultados aqui no blog. Na época não havia nenhum aplicativo que identificasse aves brasileiras, então fiz os testes com fotos e sons de aves norte-americanas. A novidade é que há alguns meses o aplicativo Merlin Bird ID lançou um pacote de dados com espécies comuns no Brasil (por enquanto, somente espécies da região Sudeste), então agora dá pra brincar à vontade com este app!
O Merlin Bird ID foi desenvolvido pelo laboratório de Ornitologia da Cornell University, é gratuito e está disponível para download na Google Play e na App Store. Está totalmente em português e não é difícil de usar, mas durante a instalação podem surgir algumas dúvidas. Para ter acesso a todos os recursos, é preciso:
- Instalar o aplicativo no celular
- Baixar o Foto ID, que é o recurso (opcional) que permite identificar aves a partir de fotos
- Baixar o pacote de dados com as aves do Sudeste do Brasil (é preciso ter um bocadinho de espaço disponível no celular, pois são mais de 600 MB)
Feita a instalação… é hora de testar! Existem dois métodos pelos quais o Merlin identifica aves. Vou comentar abaixo os resultados que obtive com cada um deles: “Iniciar ID” e “Foto ID”.
Iniciar ID
Neste caso não é preciso ter um registro fotográfico da ave. O aplicativo vai perguntar várias informações sobre o avistamento (localidade, data, tamanho aproximado da ave, cores, local onde a ave foi observada) e sugerir uma lista de espécies que correspondem com as respostas. Simples assim, mas por isso mesmo um recurso bastante interessante.
Fiz alguns testes com as aves que apareceram hoje no comedouro que tenho na varanda (moro no estado de São Paulo, dentro da área de abrangência atual do Merlin) e estes foram os resultados:
- sabiá-do-campo (tamanho de sabiá / cinza / alimentando-se em um comedouro) >> 2ª opção na lista de espécies sugeridas
- sanhaço-cinzento (tamanho de pardal ou menor / azul e cinza / alimentando-se em um comedouro) >> 6ª opção na lista de espécies sugeridas
- beija-flor-tesoura (tamanho de pardal ou menor / azul e verde / alimentando-se em um comedouro) >> 1ª opção na lista de espécies sugeridas
Para dificultar só um pouquinho, testei também duas outras aves que passaram pelo meu quintal hoje:
- carcará (tamanho entre corvo e ganso / preto e branco / pairando ou voando) >> 1ª opção na lista de espécies sugeridas
- chopim-do-brejo (tamanho de sabiá / preto e amarelo / em árvores ou arbustos) >> 3ª opção na lista de espécies sugeridas
Foto ID
Este é o recurso que tornou o aplicativo tão famoso e promete revolucionar a observação de aves. O Merlin utiliza inteligência artificial para analisar fotos e sugerir espécies. Como toda inteligência artificial, quando mais for alimentada com fotos e feedback (se acertou ou não), maior será sua taxa de acerto. Ou seja, o Merlin tem potencial para ficar cada vez melhor.
Há duas maneiras de fornecer fotos para o Merlin identificar. Uma delas é selecionar imagens que estão na galeria de fotos. A outra é utilizar a câmera do celular. A princípio eu não tinha entendido muito bem a vantagem, pois em geral é muito difícil clicar uma ave com um celular. Mas aí me contaram o grande truque: fotografar com o celular as fotos diretamente na tela do computador, no display da câmera ou mesmo uma imagem impressa.
Depois de selecionar a foto, é só acertar o zoom até que a ave esteja enquadrada e informar a data e local do registro. Em poucos segundos o aplicativo analisa a foto e retorna uma lista com as espécies mais prováveis. É muito impressionante. Comecei os testes com a primeira pasta de fotos que encontrei no meu computador, de uma passarinhada recente em Monte Alegre do Sul – SP. Escolhi algumas fotos bem nítidas, de aves bem fáceis de identificar, e copiei os arquivos para o celular. Como eu já esperava (com base nos testes que fiz ano passado com aves que ocorrem nos EUA), o Merlin acertou todas.
Na segunda parte do teste escolhi umas fotos bem ruinzinhas, escuras e pouco nítidas. Novamente o aplicativo acertou todas. Vou colocar só alguns exemplos aqui, mas testei muuuuitas fotos, de várias espécies diferentes.
Na terceira parte do teste desenterrei umas fotos antigas, que fiz com uma câmera mais simples do que a que uso hoje. A essa altura estava com preguiça de subir as fotos pro celular, então fiz do jeito mais fácil: fotografei a tela do computador. A qualidade das imagens caiu ainda mais, mas mesmo assim o Merlin acertou todas as espécies que testei.
Ok. Mas e se eu não tiver acesso a uma câmera com lentes que permitam registrar os pássaros assim, tão de pertinho? E se eu tirar fotos com o celular mesmo, e depois der aquele zoom e a imagem ficar toda pixelada? Fui até o parque mais próximo de casa e fotografei as primeiras aves que encontrei com o meu celular. Ele já é velhinho, mas tem uma câmera razoável. As fotos ficaram horríveis, mas o Merlin não se intimidou e identificou todas as imagens em que as aves estavam minimamente visíveis. Só no caso da lavadeira-mascarada (da foto abaixo) que a espécie correta apareceu em segundo lugar na lista de sugestões, em primeiro estava a noivinha-branca.
Ainda fiz um último teste: tentei identificar com o Merlin uma ave que não é nativa do Brasil, embora a foto tenha sido feita no Ibirapuera, em São Paulo. O cisne-negro é uma ave domesticada que é fácil de encontrar neste parque. Pensei que o aplicativo iria sugerir uma espécie errada, mas ele simplesmente não tinha nenhuma sugestão de identificação (veja a imagem abaixo). Então refiz o teste com a mesma foto, mas não forneci nenhuma informação sobre local e data em que a foto foi tirada. Desta vez o Merlin identificou corretamente a ave, mas como esta espécie não está incluída no pacote de aves do Sudeste (o único que eu tinha instalado) o aplicativo não mostrou mais nenhuma informação sobre a espécie, apenas o nome mesmo. Mas sugeriu pacotes que incluem a espécie e que eu poderia baixar.
Para fechar, repliquei uma brincadeira que já vi algumas pessoas fazendo com o aplicativo: identificar pinturas e ilustrações!
Nada mal, não?
Esses testes foram feitos com uma pequena amostra de imagens e sem seguir uma metodologia muito certinha. Mas os resultados mostram que o Merlin, embora não seja infalível, é extremamente útil na identificação de aves. Depois que lançaram o pacote de dados com aves brasileiras tenho indicado para todo mundo, pois é um recurso fantástico, principalmente para quem está começando a observar aves. Fico imaginando como seria ter uma ferramenta destas nas mãos quando eu tinha uns 10 anos de idade… certamente teria virado passarinhóloga muito mais cedo!
6 Comentários
Legal eu quero esse espero q seja bom
Estou instalando agora…. ja usei no celular de meu filho em Monte Alegre do Sul e o programa se mostrou muito bom…
O programa é otimo para identificar e criar minha lista de observações. Funciona sempre aqui no Brasil.
Recentemente viajei paea Portugal e Espanha e instalei o pacote Europa / península ibérica, Portugal e Espanha. Na espanha funcioniu perfeitamente, identificando todas as aves que avistei. Por outro lado, em Portugal ele não carrega a lista de sugestões.
Vai ser de grande ajuda aqui na roça
Muito interessante. Cheguei procurando por uma base de dados de pássaros pois estou criando um aplicativo que a partir de uma câmera de vigilância comum , irá identificar os pássaros que frequentam a área de minha residência . Esse aplicativo está pronto aí , conforme demonstrou, pena que só opere em celulares. Grato pela dica .
Olá Gerson! Já ouviu falar deste comedouro inteligente? Chama-se “My Bird Buddy” (https://mybirdbuddy.com/) e ele identifica as aves que visitam o comedouro, além de mandar notificações por celular sobre as visitas.
É um produto gringo, que eu saiba não está disponível no Brasil. Mas talvez traga alguma inspiração pro seu projeto. Boas passarinhadas!