It takes a very long period of observing to become really familiar with an animal and to attain a deeper understanding of its behaviour; and without the love for the animal itself, no observer, however patient, could ever look at it long enough to make valuable observations on its behaviour. (Konrad Lorenz, 1960)
Konrad Zacharias Lorenz nasceu em 1903, na Áustria. De família abastada, Lorenz foi criado em uma mansão próxima ao rio Danúbio. Era lá que o jovem coletava invertebrados para depois observar em seu aquário. Ele teve muitos animais de estimação exóticos, como sapos, garças, corvos, e até mesmo um crocodilo. Apesar do interesse “inato” por animais, seu pai – um importante cirurgião ortopedista – insistia para que ele se tornasse médico. Para apaziguar a situação, Lorenz cursou medicina, mas se especializou em anatomia comparada, o que lhe permitiu prosseguir na Zoologia. Nas aulas com Ferdinand Hochstetter ele aprendeu sobre a reconstrução de filogenias a partir de caracteres anatômicos, conhecimento que lhe serviu como base anos depois, aplicado no estudo do comportamento animal à luz da evolução.
Lorenz trabalhou como assistente no Instituto de Anatomia de Viena até 1935, quando Hochstetter se aposentou. A partir de então ele começou a publicar artigos de grande relevância, nos quais desenvolveu os conceitos de imprinting, comportamento instintivo e estudos comparativos de comportamento. Por esses trabalhos ele hoje é conhecido como o pai da Etologia moderna.
Um de seus experimentos mais famosos foi feito com uma ninhada de gansos (Anser anser). Metade dos ovos foi deixado no ninho, a outra metade foi para uma chocadeira. Na ausência da mãe, os gancinhos que nasceram na chocadeira começaram a seguir Lorenz onde quer que ele fosse. Mesmo quando ele juntou seus gancinhos com os que foram chocados pela mãe, logo eles se separavam e continuavam a segui-lo (veja um vídeo da época). Lorenz descobriu que a primeira coisa que um ganso vê, logo após o nascimento (na verdade, em uma janela de aproximadamente 12-17 horas), é interpretado como se fosse sua mãe. Esse fenômeno é chamado de imprinting. Em outros experimentos Lorenz demonstrou que até mesmo objetos podem ser identificados como “mãe” pelos gancinhos (assim como patinhos, pintinhos e outras aves).
Atualmente, muitas das teorias propostas por Konrad Lorenz foram modificadas e até mesmo descartadas. Ele era conhecido por não seguir a metodologia científica a risca, muitas vezes baseando-se em observações pontuais. Raramente se dava ao trabalho de confirmar resultados replicando experimentos. Ele também foi muito criticado por simpatizar com alguns dos ideais nazistas, fato do qual ele se arrependeu quando mais velho. Apesar de não se envolver com política, Lorenz foi prisioneiro de guerra por três anos, durante os quais prestou serviços como médico.
Nos anos pós-guerra, Lorenz seguiu o conselho de alguns colegas e escreveu dois livros populares: “King Solomon´s ring” (sobre animais) e “Man meets Dog” (sobre como o homem domesticou o cão). Para sua surpresa, estes livros foram muito bem recebidos pelo público em geral e ajudaram a divulgar esta nova ciência que surgia, a Etologia. Após muitas publicações (164 listadas em seu memorial), Lorenz se aposentou em 1973, no mesmo ano em que dividiu um prêmio Nobel com os etólogos Nikolaas Tinbergen e Karl von Frisch, pelas descobertas sobre padrões de comportamento individuais e coletivos. Ele faleceu em 1989, aos 86 anos.
Referências:
BENES, F. M. (2004) Images in Psychiatry / Konrad Lorenz, 1903-1989. American Journal of Psychiatry 161(10): 1767.
KREBS, J. R., & SJÖLANDER, S. (1992). Konrad Zacharias Lorenz. 7 November 1903 – 27 February 1989. Biographical Memoirs of Fellows of the Royal Society, 38, 210-228 DOI: 10.1098/rsbm.1992.0011