Foram tantas indicações que resolvi conhecer a tão falada Serra do Cipó. Neste parque nacional predominam a Mata Atlântica (à leste) e o Cerrado (à oeste). Nas regiões mais altas estão os campos rupestres. E há inúmeras cachoeiras por todos os lados. Ao todo são mais de 226 espécies de aves registradas dentro dos limites do parque. Algumas só podem ser encontradas na região, como o lenheiro-da-serra-do-cipó e o beija-flor-de-gravata-verde.
Chegamos em Belo Horizonte de manhã bem cedo. Na rodoviária pegamos um ônibus que nos deixou na vila, próxima às portarias do Parque Nacional da Serra do Cipó. Apesar do parque estar localizado a apenas 100 km da capital, foram quase 3 horas de viagem. Enquanto procurávamos uma pousada e um lugar para almoçar (o que foi bem fácil, são inúmeras opções) reparei na quantidade enorme de canários-da-terra que perambulavam pelas ruas.
Um comedouro em frente à sorveteria atraia um grande número de aves. Além dos canários-da-terra, havia também garibaldis e rolinhas. No capim ao lado do restaurante estava um coleiro-baiano. Perto dali, escondida na copa de uma árvore, encontrei uma delicada rolinha-picui.
No dia seguinte encaramos uma boa caminhada parque adentro. Queríamos uma trilha bem sinalizada e optamos pelo Cânion das Bandeirinhas, que fica distante 12km da portaria. Na volta fizemos um desvio e ainda conhecemos a Cachoeira da Farofa. Total: aproximadamente 30km! Foi bastante cansativo, principalmente por conta do calor. O céu estava azul, sem nenhuma nuvem para nos proteger do sol. A sorte é que encontramos muitos riachos pelo caminho, onde dava para dar uma refrescada e reabastecer os cantis.
A primeira parte do trajeto atravessava uma vegetação baixa. O gibão-de-couro era presença constante, mesmo sob o sol forte. Lá longe o inhambú-chororó cantava. Avistamos bicos-de-veludo, periquitos-rei, fogo-apagou, urubus-de-cabeça-vermelha e carrapateiros. Em vários pontos a trilha se encontrava alagada, formando grandes poças. Em uma dessas poças encontramos um ativo casaca-de-couro-da-lama. No caminho de volta, horas depois, ele ainda estava lá procurando comida.
Perto do cânion a vegetação mudou radicalmente. A trilha, agora mais próxima do rio, passava por árvores mais altas. Sombra, finalmente. Neste ponto vários ciclistas passaram por nós, já voltando do passeio. Encontramos almas-de-gato, arapaçus-do-cerrado, muitos neineis e o belo sanhaço-de-fogo. Um petrim cantava sem parar. Mas quando me aproximei com a câmera um grupo de turistas passou e ele se assustou. O parque é bastante movimentado nos fins de semana…
No caminho de volta pegamos o desvio para a Cachoeira da Farofa. Este era o trecho mais bonito da trilha, quando atravessamos um lindo campo. O capim estava repleto de papa-capins e a cena era realmente bonita, principalmente com a luz do pôr-do-sol. Vi uma tesoura-do-brejo com a cauda ainda curtinha, mas foi um grupo de caboclinhos-frade que prendeu minha atenção.
Voltamos para a portaria apressados, pois a noite já estava chegando e extrapolamos o horário de funcionamento do parque. Acabamos assustando muitos curiangos que já estavam na beira da trilha. Mas a maior surpresa foi a enorme jacurutu empoleirada num galho alto. Não é a toa que é a maior coruja do Brasil!
No dia seguinte só sobrava fôlego para fazer uma caminhada mais leve. Encaramos a Trilha dos Escravos, próxima ao Véu da Noiva. A subida é íngreme, mas curtinha. Lá do alto a vista é incrível e os campos rupestres dominam. Fazia calor e a passarada estava calada. Vi uma dupla de guaracavas-de-barriga-amarela e um besourinho-de-bico-vermelho. Como sempre, urubus-de-cabeça-vermelha sobrevoam nas alturas. Antes de ir embora, porém, um beija-flor diferente apareceu: era o famoso chifre-de-ouro!