Estava em Curitiba para o natal, então aproveitei para dar um pulo em Ponta Grossa e rever este lugar tão especial. Conheci Vila Velha quando tinha uns doze ou treze anos, e a imagem dos arenitos com formatos curiosos nunca saiu da minha cabeça. Foi também onde vi pela primeira vez uma gralha-azul, muito tempo antes de sequer imaginar que um dia me tornaria uma passarinhóloga de carteirinha.
Chegar lá com transporte público não foi nada fácil. Pegamos um ônibus de Curitiba para Ponta Grossa, e a ideia inicial era descer em frente ao parque, que fica alguns quilômetros antes da cidade. Por algum motivo obscuro (provavelmente falta de vontade mesmo) o motorista se recusou a parar e fomos obrigados a ir até a rodoviária de Ponta Grossa. Chegando lá descobrimos que já havíamos perdido os poucos circulares que poderiam nos deixar no parque. O jeito foi pechinchar um táxi para não perder a viagem. Nosso mau humor só podia ser comparado ao calor insuportável que fazia em pleno 25 de Dezembro. Sorte que o pessoal do parque é tão simpático e atencioso que rapidinho nossos ânimos voltaram!
De cara um dos guias me avisou para ficar atenta ao início da trilha, onde eu poderia encontrar um ninho de pica-pau-branco. Dito e feito, esperei só um pouquinho ao lado da árvore indicada e lá veio a ave alimentar os filhotes. Ao longo da caminhada pelos arenitos encontramos dezenas de pássaros-pretos, que cantavam muito e faziam uma verdadeira algazarra. Não me lembro de ter visto tantos de uma só vez.
Pouco depois de passar pela famosa taça de Vila Velha, inicia-se uma trilha mais fechada, cercada pela mata. Estava lá um grupo de gralhas-picaça e alguns encontros. Apesar da calçada que se estende ao longo de todo o trajeto, é bom ficar atento. Fazia tempos que eu não trombava com uma cobra!
Apesar da placa, só fui ver os andorinhões no passeio às furnas. Ficou faltando uma foto para explicar essas fantásticas formações geológicas, mas não consegui tirar nenhuma que fizesse jus a sua beleza, nem que demonstrasse bem sua profundidade. Pelo que entendi da visita guiada, furnas são “poços de desabamento”, formados pela compactação natural das rochas subterrâneas. Algumas furnas são tão profundas que ultrapassam o nível do lençol freático, o que resulta na formação de pequenos lagos no seu interior. Algum geólogo me corrija se eu estiver errada.
Pois bem, lá no Parque Estadual de Vila Velha é possível visitar duas furnas, ambas com lagoas no fundo. Claro que a passarinhada aproveita bem estes refúgios naturais e de quebra dá para observar algumas espécies bem ativas dentro dos poços. Além dos andorinhões, que voavam em círculos em busca de insetos, um bem-te-vi-rajado também forrageava lá no fundo. Enquanto isso, um bando enorme de tiribas-de-testa-vermelha descansava na vegetação ao redor da furna. Se fizer o passeio, repare na quantidade de ninhos de guaxe que foram construídos próximo ao local onde o ônibus turístico estaciona. Na dúvida pergunte aos guias, eles conhecem bem o parque e adoram conversar sobre os bichos de lá.
Até na hora de ir embora deu para colocar mais uma espécie na lista. Um bando de corucões passava o dia descansando no gramado, logo na saída do parque, pouco depois do estacionamento. De longe pareciam pedras.
Há uma infinidade de aves na área do parque. A trilha dos arenitos dá para fazer com calma, se distanciando bastante dos demais turistas. Já o passeio para as furnas e a lagoa dourada só é feito em grupos grandes, o que atrapalha bastante a observação de aves. Se eu pudesse passava um dia inteirinho sentada na beira de uma furna, só pra ver o que aparece por lá…