Não sei nem por onde começar. Tem tanto lugar para passarinhar em Florianópolis! Logo que cheguei peguei um mapa turístico e foi triste pensar que não conseguiria conhecer todos os parques e trilhas que estavam indicados ali. São muitas opções, mas muitas mesmo. Depois fui conhecendo pessoas que também gostam de observar aves lá. Elas me deram muitas dicas e consegui decidir quais lugares priorizar, além de descobrir mais um monte de opções que eu nem fazia ideia que existiam.
Vou falar um pouquinho sobre os lugares mais bacanas que visitei. É só um resumo, pois na verdade cada um deles merecia um post separado. Todos são muito próximos do centro de Florianópolis, de carro dá pra chegar na maioria desses lugares em cerca de meia hora, se não houver trânsito (o que pode ser um grande problema em alguns horários). Como não haveria espaço para todas as fotos aqui neste post, criei uma galeria de fotos das aves que observei em Floripa.
Parque Natural Municipal do Morro da Cruz
Vou começar por esse parque porque foi nele minha primeira passarinhada oficial em Florianópolis, durante um dos passeios organizados mensalmente pela AFOA – Associação Florianopolitana de Observadores de Aves. O Parque Morro da Cruz é muito recente, foi inaugurado em Novembro de 2013. Tanto que ele não aparece na maioria dos mapas e muitos moradores acreditam que ele ainda está fechado.
No parque você encontra um pequeno resquício de mata, recortado por trilhas curtas. A trilha da pedra dos gaviões leva até um mirante com vista para a parte mais urbana da cidade. Dá para ver o centro, a ponte Hercílio Luz e o continente.
A trilha da rendeira é minha preferida, por motivos óbvios: é fácil encontrar este passarinho nesta trilha. Repare que eu escrevi “encontrar” e não “observar”. A rendeira é muito ágil e rápida, voando de lá para cá no meio da vegetação. Recebe este nome porque emite um som que lembra o barulho dos bilros utilizados para fazer rendas. Esta espécie pode ser encontrada na Amazônia e na Mata Atlântica, mas observá-la em Florianópolis parece ter um significado especial, pois lá persiste a cultura açoriana e a tradição de suas belas rendas de bilros. Quem tiver curiosidade pode encontrar rendeiras (as pessoas, não os passarinhos!) trabalhando na Fortaleza da Ponta Grossa e também no mercado municipal.
Trilha: Praia da Solidão até a Praia do Saquinho
Difícil dizer qual a trilha mais bonita de Florianópolis. Alguns preferem a trilha da lagoinha do leste, outros dizem que é a trilha dos naufragados. Eu particularmente gostei muito deste caminho que vai da praia da solidão até a praia do saquinho. Não é muito longo, tem vista para o mar durante boa parte do percurso e foi onde tive mais sorte com as aves.
Um caminho estreito de concreto liga a praia da solidão até uma pequena comunidade que vive próxima à praia do saquinho. Durante o trajeto observei arapaçu-verde, cuspidor-de-máscara-preta, limpa-folha-de-testa-baia, galinha-do-mato, chorozinho-de-asa-vermelha, tiê-de-topete… além de gralhas-azuis, muitas gralhas-azuis! Os hibiscos nos jardins das casinhas estavam lotados de beija-flores, sanhaços e saíras. Lá também nos esperava um belíssimo tucano-de-bico-preto!
Trilha: Morro do Assopro
Essa trilha fiz pela primeira vez com o pessoal da Sociedade de História Natural de Desterro. O grupo foi criado por alunos da UFSC mas é aberto a qualquer pessoa interessada em história natural e divulgação científica. A inspiração vem das tradicionais sociedades de história natural (muitas das quais existem até hoje) e o nome é uma referência a como Florianópolis era chamada antigamente: Nossa Senhora do Desterro.
O Morro do Assopro é recortado por vários caminhos. Nesta ocasião fomos até uma antiga rampa de salto da asa-delta e depois seguimos até uma pedra que tem uma vista maravilhosa para a Lagoa da Conceição.
A trilha percorre trechos de Mata Atlântica, onde vimos aracuã-escamoso, gralha-azul, tucano-de-bico-preto, saíra-militar, choquinha-lisa, cabeçudo… Lá encontrei pela primeira vez o papa-formiga-de-grota, mas vou ficar devendo a foto, ele não colaborou muito com a fotógrafa aqui. Quem roubou a cena no Morro do Assopro foi um bando de macacos-prego, os únicos primatas nativos da ilha.
Parque Municipal do Córrego Grande
Próximo à UFSC, o parque tem uma trilha circular muito utilizada pelos moradores para caminhadas. Quando lembro deste parque penso imediatamente em saracuras, pois há muitas saracuras lá! Dei apenas uma passada rápida, mas o parque tem vários registros bacanas no Wikiaves, considerando que está situado em uma área bem urbana.
Foi lá que finalmente consegui uma foto razoável do tapicuru, que é uma ave muito comum em Florianópolis. O curioso é que esta espécie foi registrada pela primeira vez no estado de Santa Catarina muito recentemente, em 2003! De lá pra cá houve uma rápida expansão de sua área de distribuição.
Lagoa Pequena
Lugar imperdível para observar aves que gostam de proximidade com a água, como saracuras, marrecas, narcejas, jaçanãs… Estivemos lá na ótima companhia do fotógrafo Daniel Pohl. Não é só a diversidade, mas a quantidade de aves encanta os olhos, com direito a dezenas de dragões (uma ave muito parecida com o chopim-do-brejo). Até uma dupla de cardeal-do-banhado deu as caras por lá, antes do sol se por.
Beira Mar Norte
Sim, até mesmo ao lado desta grande e movimentada rodovia dá para observar aves! O calçadão da orla é muito utilizado pelos moradores para caminhadas e treinos de corrida. Afinal a vista é linda. Na beirada, entre as pedras, dá para ver muitas garças, tapicurus, socós-dorminhocos e bem-te-vis pescando nas águas rasas. Dependendo do horário aparecem trinta-réis, que pescam por meio de mergulhos rápidos. Gaivotas, atobás, biguás e talha-mares podem ser vistos voando sobre o mar. Enquanto isso sempre tem alguma fragata sobrevoando, lá no alto. Ao andar próximo ao mangue, procure pelas saracuras, com sorte dá para encontrar a saracura-matraca.
Trilha: Praia dos Naufragados
Uma bela trilha em meio a Mata Atlântica, que leva até a praia dos Naufragados, com direito a um antigo farol e canhões de guerra. Oficialmente esta região faz parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Fomos com um grupo maior e começamos a trilha tarde, por isso não vi muitas aves nesse dia. Mas o tucano-de-bico-preto estava lá, além de muitas gralhas, sanhaços, capitão-de-saíra, juriti-pupu… Na praia encontramos muitos trinta-réis e um bando de pernilongos-de-costas-brancas.
Trilha: Lagoinha do Leste
Outra trilha em meio à Mata Atlântica que termina em uma bela praia. É a trilha preferida da maioria das pessoas com quem conversei, principalmente por conta da vista incrível lá de cima do Morro da Coroa. Fomos num fim de semana e encontramos bastante gente acampada perto da lagoinha. Neste dia foi difícil ver as aves pois a mata é fechada, mas deu para ouvir várias. Na praia, vimos um casal de piru-piru que procurava alimento na areia. Também encontramos um pinguim-de-magalhães morto; nesta época do ano é comum chegaram pinguins bastante debilitados às praias catarinenses. Eles vivem nas costas da Argentina e do Chile, onde nidificam.
RPPN Morro das Aranhas
Essa reserva particular é administrada por um resort. Há inscrições rupestres no costão e algumas trilhas dentro da mata, uma delas leva até o alto do Morro das Aranhas. Fizemos esta trilha rapidamente pois já era fim de tarde e não queríamos voltar no escuro. Vi muitos vultos de aves, mas na correria não identifiquei quase nenhuma. Lembro de alguns tiês-pretos, uma rendeira fêmea, um beija-flor-de-garganta-verde. A vista lá de cima é muito interessante, dá para entender a geografia das praias e das dunas. No céu, muitos urubus-de-cabeça-vermelha.
Antes disso havíamos caminhado na praia do Santinho, onde encontramos gaivotas, trinta-réis, piru-piru, pernilongos-de-costas-brancas… Nas dunas próximas da praia haviam sabiás-do-campo, pia-cobra, chimangos e dragões.
Parque Municipal da Lagoa do Peri
Estive lá durante uma atividade do V Encontro Brasileiro de Ilustração Científica. Foi uma experiência interessante pois a maioria das pessoas estava mais interessada nas plantas. Reparavam em pequeninas flores que teriam passado totalmente despercebidas por mim. Nada como mudar o foco do olhar! Enquanto isso eu estava mais preocupada em descobrir quem era o rapinante que voava tão alto lá no céu. Era um gavião-de-cauda-curta.
Percorri apenas parte das trilhas, na região mais próxima do centro de visitantes. Encontrei o pequeno picapauzinho-de-coleira, aracuã-escamoso, gaturamos, mariquitas, saís-azuis e dezenas de canários-da-terra. Enquanto isso, perto do estacionamento, gralhas-azuis vasculhavam as lixeiras em busca de iguarias…
Centro de visitantes do Parque Estadual do Tabuleiro
Não fica em Florianópolis, mas é bem pertinho e vale a visita. O centro de visitantes fica na Baixada do Maciambu, em Palhoça. A região é coberta por vegetação de restinga e a trilha interpretativa do parque, apesar de curta, é uma das mais belas e bem cuidadas que já visitei. Pena que não consegui fazer uma foto que fizesse jus a esse lindo ecossistema.
Neste dia ventava muito e as aves estavam, como toda a razão, escondidas. Mas dei sorte e entre as poucas espécies que deram as caras, estava a maria-da-restinga, ave endêmica e ameaçada de extinção. Lifer!
Parque Ambiental dos Sabiás
Este parque ficou pro final porque foi o último que visitei. Fica em São José, na Grande Florianópolis (continente). Foi uma boa surpresa pois apesar de ser difícil encontrar informações sobre esse parque, ele é maior do que eu esperava e é bem preparado para visitação.
Uma trilha pavimentada atravessa a mata, que ainda está bem conservada. Há uma infinidade de aves, mas não é fácil observá-las. A maioria prefere ficar na copa das árvores, que são bastante altas. O pula-pula é uma exceção, gosta mais do sub-bosque e parece se divertir fugindo das câmeras. Aqui e ali ouvimos o bater do bico de um pica-pau. Também testemunhamos várias disputas entre beija-flores. Mas o que vai ficar na memória são os vários casais de cuspidor-de-máscara-negra que encontramos. O macho todo colorido, a fêmea mais parda. Nem parecem pertencer a mesma espécie!
Como comentei lá no início, ficaram faltando muitos lugares para passarinhar em Florianópolis. Por exemplo, não deu tempo de visitar a Estação Ecológica de Carijós, que exige agendamento prévio. Mas a experiência de observar aves em Florianópolis foi fantástica e só posso imaginar como deve ser lá na primavera. Será que fica melhor ainda???
Mais que tudo, quero agradecer todas as pessoas que nos receberam tão bem nesta linda cidade. Passarinhar é sempre bom, mas em boa companhia é ainda melhor. Já estamos com saudades!
8 Comentários
Nossa!! Que massa!! Eu vou pra Floripa umas três vezes por ano e já passarinhei em praticamente todos esses lugares que tu falaste acima!! Muito bom mesmo!!
Que legal que descobri seu site!
Ontem estive na lagoa do peri e me encantei com a quantidade de aves que pude avistar!
Vi muitas espcecies que você apresentou aqui, Parabens pelo trabalho!
E boas passarinhadas! ;)
Parabéns! Excelente “passeio” por Florianópolis de paisagens fantásticas mescladas por suas aves de cores infinitas.
Parabéns pela página e a quantidade de informações que você nos disponibiliza!
Dia 18/11/2019 (segunda feira) eu vi um bando de aves com plumagem avermelhada/rosada sobrevoando a região do mangue da costeira, sentido sul da ilha. Eu estava na praia das Palmeiras/Coqueiros e fiz um vídeo. Infelizmente, pela distância, não dá para reconhecer a espécie, ainda mais para um leigo (como eu).
Você teria ideia de qual ave poderia ser? Se quiser, eu posso enviar o vídeo por email/WhatsApp. Fiquei muito curioso para saber! Abraços
Olá Anderson,
Desconfio que você avistou o bando de guarás que foram observados esta semana em Florianópolis. A espécie não era vista na região há mais ou menos um século! Te mandei um e-mail.
Vou pesquisar sobre observação em floripa, não imaginava que tinha tantos lugares assim rsrsrs
Comecei dia 11/11/2019, estou muito feliz com a prática.
obrigado pelas dicas
Sou Argentino observador de aves. obrigado pela informacion. Estaba procurando lugares para fazer birdwatching. Faltou somente colocar os nombres cientificos na descripcion do seu site para que extranjeiros podamos saber de que ave estais falando. Obrigado muito lindo Santa Catarina
Na próxima vez que você vier para Floripa não deixe de conhecer a Praia da Daniela, perto do Ratones. Lá tem uma vasta área de Restinga, que é área de preservação, e tem muitos animais (capivara principalmente) e aves de rapina (uma vez eu vi uma ave de rapina, não sei se era falcão, gavião ou águia).
Eu também vi um tipo de galinha-do-mato fugindo/correndo de dois cachorros que estavam caçando ela no meio da trilha (talvez fosse um Aracuã-Escamoso ou uma Caraúna, ou ainda uma Maria-Faceira, não tenho certeza), fiquei até assustado pensei que fosse o chupa-cabra kkkkk.
Tem também a Praia do Abraão no continente, onde fica o parque ecológico Ilha das Conchas com muitas aves circulando. Te indico também a trilha que vai da Praia Brava até a Praia dos Ingleses, pela costa, e também a trilha da Barra da Lagoa para a Praia da Galheta. Tem também o Bosque Pedro Medeiros no Estreito (no Canto, na Rua Afonso Pena).
Estou começando a me interessar por biologia e ornitologia, estava procurando na internet para saber o nome de algumas aves que eu costumo avistar pela cidade, e o seu site me salvou. Eu sempre vejo o tal do socó-dorminhoco pela orla da beira-mar (calçadão), eu não sabia que era esse o nome, pensava que era algum tipo estranho de gaivota, achava até meio parecido com um pinguim (só que deitado e não de pé).
Graças ao seu site finalmente descobri o nome da ave preta que eu sempre vejo (tapicuru) e também aquela que fica lá no alto, o tesourão (fragata).
Aqui tem muito João-de-Barro, Pardal (não tenho certeza se é pardal ou Tico-Tico, acho que é pardal), e tem também muitos Bem-Te-Vi, Quero-Quero, Calopsita, e Gaivotas, é claro. Uma vez eu vi um casal de araras pousando em uma árvore bem na praia dos Açores/Costa de Dentro, todo mundo que estava perto parou pra apreciar.
Aqui pela orla da beira-mar eu vejo muitas garças, esses dias vi uma garça gigante em Coqueiros, deve ser uma garça-moura (parecia até um Tsuru). Se um dia você for pro Japão tenta encontrar um Tsuru (grou)!
Parabéns pelo trabalho, muito bacana!