Na divisa entre os municípios de Jaú, Bariri e Itapuí (SP) há uma região úmida conhecida como Marambaia. Originalmente um bairro rural com muitos habitantes, a Marambaia sofreu grandes transformações na década de 60, quando foi alagada após a construção de uma represa. A expansão das áreas de várzea e brejos acabou dando origem à um ecossistema muito peculiar, em alguns aspectos semelhante ao Pantanal, atraindo animais típicos desse tipo de ambiente. Atualmente há registros de mais de 200 espécies de aves na Marambaia, entre elas o icônico tuiuiú, além de colhereiros, cabeças-secas, garças, marrecas, saracuras…
Tendo em vista à facilidade de acesso ao local e seu potencial para o turismo de observação de aves, semana passada um grupo se reuniu lá para uma grande passarinhada, batizada de Expedição Marambaia. Organizada pela bióloga Martha Argel, a expedição teve como proposta facilitar o diálogo entre birdwatchers, representantes locais e imprensa.
Mais de 30 pessoas participaram da expedição, que começou na sexta-feira (10/fev) e terminou no domingo. Quem não era da região se hospedou na Fazenda Salto São Pedro, que fica muito próxima à Marambaia.
Fazia muito calor e aproveitamos o período da noite para conversar e trocar ideias. O Paulo Guerra, grande defensor da Marambaia, nos explicou a situação da região, que é ameaçada pela poluição das águas e ocupação do solo. Ele e outros moradores de Jaú iniciaram uma campanha pela preservação do lugar.
No sábado acordamos bem cedo e seguimos em comboio pelas estradinhas de terra que dão acesso à Marambaia. Apesar do grupo ser bem grande, deu para passarinhar numa boa, cada um no seu ritmo. Parei o carro uma infinidade de vezes, a cada momento que avistávamos uma espécie diferente. Neste pinga-pinga levamos a manhã inteira para chegar até a ponte onde termina o trajeto. E passarinhamos na volta também!
Não consegui fotografar tudo que queria (a maioria das aves estava bastante distante), mas seguem alguns registros.
Particularmente gostei de observar os gaviões-caramujeiros, nunca tinha visto tantos em um mesmo lugar. No final da tarde, na ponte, eles passavam voando por cima da gente de cinco em cinco minutos.
Outro bicho fácil de ver lá na Marambaia: a noivinha-branca! Também encontramos vários joões-de-barro (precisei conferir no Google como é o plural de joão-de-barro) e seus parentes: curutié, arredio-do-rio, graveteiro, petrim, joão-teneném…
Em determinado momento o pessoal entrou num pasto atrás do tuiuiu e eu, levemente atrasada, achei melhor não encarar as vacas sozinha. Sim, eu morro de medo de vaca (e não sou a única!). Perdi o tuiuiu mas fiquei um tempão observando o casal de picapauzinho-anão cuidando do ninho. A fêmea é a da esquerda, o macho tem um pouco de vermelho na nuca.
No domingo visitamos a Reserva Particular do Patrimônio Natural Amadeu Botelho, à convite de seu gestor, Toni Carioba. A RPPN fica a cerca de 2 quilômetros de Jaú e preserva uma floresta secular. Uma paisagem bastante diferente daquela que encontramos na Marambaia. Ali foi possível observar aves que preferem viver na borda da mata, como o cabeçudo, barranqueiro-de-olho-branco, pica-pau-de-banda-branca, tico-tico-de-bico-amarelo, juriti-pupu…
Participar da Expedição Marambaia foi uma experiência muito agradável. O evento reuniu um grupo diverso, com pessoas de interesses muito variados. Foi uma oportunidade de rever amigos e finalmente conhecer algumas pessoas que eu só tinha contato pela internet. E fazer isso tudo passarinhando é sempre um privilégio!
Fico devendo um monte de informações, mas o pessoal é ágil e já tem muita coisa publicada sobre a expedição:
- [Comércio do Jahu] Expedição mostra as belezas da Marambaia
- [eBird] Expedição Marambaia (por Martha Argel)
- [Virtude] I Expedição Marambaia, Jaú – SP, fev/17 (por Claudia Komesu)
- [JCNet] Região tem ‘refúgio’ de ave migratória igual ao Pantanal
Enquanto isso, o grupo lá no facebook continua bastante ativo. Já estão pensando em novas expedições!
2 Comentários
Realmente foi encantador essa Expedição, muita gente boa e lutando por um bem comum.
Mudei faz pouco tempo e aonde morei tinha bastante