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Passarinhando por aí

Passarinhando na Transpantaneira (MT)

por Passarinhóloga 06/09/2022
06/09/2022
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A Transpantaneira começou a ser construída em 1972. A proposta original era cruzar o Pantanal de norte a sul, ligando Poconé (MT) e Corumbá (MS), cidades separadas por quase 400 km. A obra parou em 1977 quando a rodovia chegou em Porto Jofre, à margem do rio Cuiabá. O resultado deste louco empreendimento são 145 km de estrada de terra e muitas pontes: 122 no total. Durante o período de estiagem (abril à setembro) a estrada encontra-se em boas condições e pode ser percorrida até mesmo com carros de passeio. No período das chuvas a situação muda radicalmente e alguns trechos da Transpantaneira podem ficar intransitáveis.

A Transpantaneira no período de seca. Antigamente a maioria das pontes era de madeira, mas hoje todas as pontes da primeira metade da estrada, até o km 70 mais ou menos, são de concreto.

Em 1996 a rodovia foi transformada em Unidade de Conservação Estadual, tornando-se a Estrada Parque Transpantaneira. Não é para menos: a Transpantaneira dá acesso privilegiado ao bioma, permitindo a observação de sua rica fauna e flora, atraindo turistas do mundo inteiro. Já faz tempo que a região é um destino muito conhecido dos observadores de aves.

Estivemos lá no mês de Agosto e percorremos boa parte da Transpantaneira de carro. Tinha chovido uns dias antes, mas mesmo assim a região estava bem seca e encontramos a estrada em boas condições. O período de seca é ótimo para observar fauna no Pantanal, porque os peixes se concentram onde ainda há água, atraindo outros animais que deles se alimentam. Cada brejinho vira um verdadeiro oásis e muitas aves estão em pleno período reprodutivo.

tuiuiú na transpantaneira
Ninho de tuiuiú (Jabiru mycteria), a ave símbolo do Pantanal.

O Pantanal é lar de mais de 570 espécies de aves, com grande abundância de aves aquáticas e aves migratórias. Curiosamente, essa imensa planície inundável não apresenta endemismos. Isso quer dizer que, até onde se sabe, nenhuma ave é encontrada exclusivamente no Pantanal, embora tantas espécies possam ser observadas com facilidade por lá. A região funciona como um grande centro de convergência, o que resulta em uma incrível mistura de espécies típicas dos biomas vizinhos: Amazônia, Cerrado e até mesmo Mata Atlântica.

Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare).

Apesar do nome, nem mesmo o jacaré-do-pantanal é endêmico do Pantanal. Este réptil já sofreu muito com a caça, mas desde a proibição do comércio de peles sua população se recuperou. Hoje este jacaré é extremamente abundante na região e muito fácil de encontrar ao longo da Transpantaneira. Durante o período de seca eles se aglomeram nos pequenos corpos d’água que persistem à vazante. Foi muito empolgante encontrar dezenas de jacarés logo no começo da Transpantaneira, sob a primeira ponte. Mas depois de alguns quilômetros de estrada confesso que perdemos o interesse, de tantos que são.

As aves aquáticas grandes e pernaltas são as estrelas da Transpantaneira. Encontramos turistas de vários países integrando excursões tipo safári para observar tuiuiús, cabeças-seca, colhereiros, garças, socós, saracuras, tapicurus e curicacas. Elas estão por todas as partes, seja descansando no alto das árvores, seja procurando alimento nas águas enlameadas. A vida realmente pulsa no Pantanal, pra onde quer que você olhe tem bicho. Muito bicho!

Colhereiro (Platalea ajaja).
Cabeça-seca (Mycteria americana).
Tapicuru (Phimosus infuscatus).
Socó-boi (Tigrisoma lineatum), jovem.
Pavãozinho-do-pará (Eurypyga helias).

Com um pouco de atenção também dá para encontrar os passarinhos menores, mais discretos e em menor número, que também vivem nos ambientes úmidos das lagoas e brejos do Pantanal. Japacanim, lavadeira-de-cara-branca, cavalaria, martim-pescador-miúdo (a menor espécie de martim-pescador do Brasil), carretão-do-brejo, coleiro-do-brejo…

Lavadeira-de-cara-branca (Fluvicola albiventer).

Os rapinantes são uma atração à parte. Parece que tem um gavião-caboclo a cada 300 metros da Transpantaneira. É só reparar nos mourões das cercas para encontrá-los, em qualquer horário do dia. O gavião-belo, o gavião-caramujeiro e o gavião-preto também são muito fáceis de avistar. E é claro que também vimos muitos gaviões-carijó, um rapinante que é comum na beira das estradas de todo o Brasil (tanto que em inglês ele é conhecido como Roadside Hawk).

Gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis), primeira ave que avistei na Transpantaneira.
Gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis).
Gavião-belo (Busarellus nigricollis).
Gavião-preto (Urubitinga urubitinga).
Gavião-carijó (Rupornis magnirostris).

Também tem muito urubu por lá. Tive a impressão de que é mais fácil encontrar o urubu-de-cabeça-vermelha e o urubu-de-cabeça-amarela do que o urubu-preto, que é aquele que todo mundo conhece.

Urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus).

Nos campos e áreas de pastagem encontramos algumas emas, a maioria delas logo depois de cruzar o portal que marca o início da Transpantaneira. Também foi perto dali que vimos o belo cervo-do-pantanal, o maior cervídeo da América do Sul. Era um macho jovem, com os chifres ainda curtinhos, e estava sozinho. Assim que paramos o carro para fotografar o cervo, outros veículos começaram a parar também. Grandes mamíferos fascinam todo mundo, né?

Ema (Rhea americana).
Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), jovem.

A Transpantaneira não é um destino tão isolado como se poderia imaginar. Apesar de não ter sinal de celular e nenhum posto de combustível, carros e caminhonetes passavam por nós de tempos em tempos, levantando pó. Tem um barzinho lá pelo quilômetro 30 e algumas pousadas espalhadas ao longo do trajeto, mais concentradas na primeira metade da rodovia.

Apesar da sinalização, a fauna pantaneira sofre com os atropelamentos!

Conhecer a Transpantaneira foi uma experiência única. Recomendo para todos que tiverem a oportunidade. Mas teve um gosto amargo, pois é impossível presenciar toda aquela beleza e não se perguntar até quando este tipo de experiência será possível. O Pantanal tem sofrido grande ameaça devido ao aumento dos incêndios, do desmatamento e das mudanças climáticas. Faz quatro anos que a região não tem um ciclo de cheia completo, e as cheias cobrem uma superfície cada vez menor. Quase 17 milhões de animais morreram nos incêndios de 2020, quando cerca de 30% do bioma foi devastado.

Sei que biólogos e ambientalistas falam disso o tempo todo, que tá todo mundo cansado desse papo. Mas está mais do que na hora de repensarmos nossas ações, nossos modos de viver, nossas prioridades. Temos responsabilidades individuais e coletivas sobre tudo que está acontecendo.

América do SulBrasilMato GrossoPantanal

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