O Hotel Sesc Porto Cercado está localizado em pleno Pantanal Matogrossense, à margem do rio Cuiabá. Do outro lado do rio encontra-se a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, a RPPN Sesc Pantanal, que preserva cerca de 1% do bioma. O acesso ao hotel é fácil, por estrada asfaltada. São cerca de 40 km do centro de Poconé ou 145 km da capital Cuiabá. Para se hospedar lá é preciso fazer reserva com bastante antecedência, mas vale muito a pena. O lugar é ótimo para observar aves (sem contar todos os serviços hoteleiros de alto padrão) e também tem um dos melhores custos-benefícios da região.
Estive lá no começo de Agosto e foi uma experiência muito rica. Além de toda a infraestrutura hoteleira (piscina, restaurantes, spa…) o hotel tem um lindo borboletário aberto para visitação. Dá para ver o borboletário na foto acima, é a redoma que parece um olho facetado de inseto. Também tive a oportunidade de conhecer a usina solar responsável por boa parte da energia utilizada no hotel e fiz alguns dos passeios de barco disponíveis.
Caminhando pela área verde do hotel, que é bem extensa, já dá para ver muito bicho! Seguem algumas fotos das aves mais fáceis de observar por lá:
(o texto continua depois, onde conto um pouco sobre os passeios)
Entre muitos avistamentos interessantes, acompanhei o cuidadoso trabalho de um casal de graveteiros na construção do ninho, bacuraus caçando insetos sobre a água do rio ao anoitecer, suiriris-cavaleiros em associação com capivaras, carcarás saqueando os ninhos comunitários das caturritas e uma jacurutu pousada na antena do hotel.
Para conhecer o entorno, o hotel Sesc Porto Cercado oferece diversos tipos de passeios, com preços bem razoáveis. O único porém é que esses passeios só podem ser agendados depois que você chega ao hotel. Alguns esgotam rapidamente. Não consegui fazer a visita à RPPN, por exemplo. Mas fiz três saídas de barco: uma para acessar a trilha do tatu, outra para ver o nascer do sol no rio Cuiabá e a terceira para ver o pôr do sol no corixo do Moquém.
Trilha do Tatu
A trilha do tatu fica perto do hotel, mas o acesso à ela tem sido feito de barco e com acompanhamento de um guia. É um percurso curto mas muito bonito, no meio da mata. Deu para observar algumas espécies de aves e vários macacos-prego. No final do caminho (que foi reduzido devido a uma queimada recente que estragou boa parte da trilha) tive a oportunidade de ver um ninho de tuiuiú bem de perto.
Despertar no Cuiabá
Esse é um passeio de barco que permite vivenciar o rio Cuiabá em um dos melhores horários para observar aves: logo no primeiro raiar do sol. Pena que tive um pouco de azar: tinha chovido no dia anterior e ainda estava nublado. Mal deu para ver o nascer do sol. Foi um passeio meio fraco em avistamentos, mas consegui encontrar alguns habitantes do rio: socó-boi, garça-moura, biguatinga, cabeça-seca, andorinha-do-rio, martim-pescador-grande, gavião-caramujeiro, mexeriqueira, trinta-réis-grande, anu-preto, capivaras e jacarés.
Corixo do Moquém
Corixo é um canal formado pelo rio na época da cheia. Neste passeio o barco percorre cerca de 16 km do rio Cuiabá e do corixo de Moquém, que fica ainda mais longo e navegável durante a estação chuvosa. Ao longo do percurso consegui ver uma infinidade de aves pantaneiras e presenciar um belíssimo pôr do sol. Definitivamente, foi o passeio mais interessante que fiz lá no Hotel Sesc Porto Cercado. Claro que as condições de tempo ajudaram muito, acredito que a experiência varia muito conforme o dia.
Estrada do Porto Cercado
A estrada que liga o hotel Sesc Porto Cercado à Poconé também é um ótimo lugar para passarinhar. Não faz parte de nenhum dos passeios oficiais do hotel, mas dá para ir andando até a ponte mais próxima ou, se estiver de carro, fazer o percurso com calma e ir parando para observar aves. Foi lá que vi a curicaca-real e a garça-real, além do gavião-belo, gavião-caramujeiro, gavião-caboclo, colhereiro, carão, gralha-do-pantanal, ema…
Infelizmente tem muita gente que abusa da velocidade e acaba atropelando animais silvestres ao longo desta estrada. Vi muitas carcaças, rodeadas de urubus e carcarás. Um problema sério que precisa ser remediado o quanto antes.
Sei que é triste e até mesmo chocante mostrar imagens como essa acima, mas acho importante expor essa realidade também. E olha que nem vou falar do fogo que devastou o Pantanal em 2020, o pior ano de queimadas da história do bioma. O que mais gosto do ecoturismo é que, quando bem feito, ele nos ajuda a perceber a complexidade e a fragilidade dos ambientes naturais, que estão cada vez mais reduzidos e impactados pelo homem. É preciso conhecer para querer preservar.
Próxima etapa da viagem: Transpantaneira! O Sesc oferece um passeio tipo safári por essa estrada icônica, mas preferi conhecer a região por conta própria, do meu jeito e no meu ritmo. Rendeu tanto que vou deixar pra contar como foi a experiência no próximo post.