Fazia muito tempo que eu queria conhecer o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Tanta gente me falou da beleza do lugar e de suas famosas palmeiras-imperiais (algumas foram plantadas em 1809!) que acabei criando grandes expectativas. Isso é perigoso, fica fácil de se decepcionar. Ainda bem que não foi o que aconteceu: o Jardim Botânico do Rio é um dos maiores e mais bonitos que já visitei. E também é um ótimo lugar para observar aves!
Era um sábado nublado, mas a previsão do tempo prometia sol. Chegamos ao Jardim Botânico logo depois que a bilheteria abriu, as 8 horas. O mal tempo deve ter afugentado os visitantes, porque não havia quase ninguém. Caminhamos tranquilamente pelo arboreto, tentando criar um mapa mental dos amplos corredores de árvores e começando a nos localizar em meio a tanto verde. Bandos de maracanãs-pequenas faziam uma arruaça no alto das árvores.
Logo encontramos a aleia principal com as centenárias palmeiras-imperiais e o Chafariz das Musas. Não dá pra traduzir em palavras a grandiosidade destas palmeiras, nativas das Antilhas, que podem alcançar até 50 metros de altura. Curiosamente, os primeiros exemplares de palmeira-imperial do Jardim Botânico do Rio de Janeiro não vieram das Antilhas, mas foram trazidos de outro jardim botânico, situado nas Ilhas Maurício (arquipélago onde vivia o famoso e extinto dodô). As mudas haviam sido oferecidas ao então príncipe regente Dom João.
Caminhamos mais um pouco e chegamos a um pequeno lago, onde começamos a encontrar mais aves. Por sorte elas não estavam muito preocupadas com a garoa que começou a cair. Grupinhos de saracuras-do-mato andavam pra lá e para cá, enquanto um socozinho pescava tranquilamente.
De lá seguimos por uma pequena trilha na Mata Atlântica. Arapaçus, saíras, tiês e outros pequenos pássaros nos rodeavam, mas estava bastante escuro e impossível de fotografar. Logo a chuva apertou e fomos buscar refúgio em um dos vários cafés do jardim. Demorou para o tempo abrir de novo, mas nesse meio tempo ficamos nos divertindo com os saguis, quase tão malandros quanto aqueles do filme Rio.
A chuva finalmente deu uma trégua e aproveitamos para andar mais um pouco. O Jardim Botânico do Rio é muito grande, são mais de 140 hectares. Ficamos várias horas lá mas não conseguimos ver tudo. Vou colocar a culpa no teque-teque, pois “perdemos” um tempão admirando o passarinho, que estava construindo o ninho numa árvore baixa.
Antes de ir embora, passamos no setor do jardim japonês e esta garça-branca-pequena desfilou e fez até pose. Acho que tinha umas quatro ou cinco pessoas fotografando ela ao mesmo tempo!
Voltei no dia seguinte. Desta vez vim sozinha. Encontrei um Jardim Botânico ainda mais bonito do que o do dia anterior. Com o sol brilhando parecia até que eu estava em outro lugar, tudo estava diferente. Até as saíras pareciam mais coloridas!
Cheguei no mesmo horário e fui direto para o caminho na Mata Atlântica. Lá encontrei outros observadores de aves, alguns com câmeras potentes, outros munidos com binóculos. Brasileiros e estrangeiros.
Enquanto os grandes tucanos faziam barulho lá no alto do dossel, um bando de pequeninos pássaros procurava insetos nos ramos mais baixos: sanhaço-do-coqueiro, saíra-sete-cores, saíra-ferrugem, tiê-galo, pula-pula, teque-teque, arapaçu-liso, arapaçu-rajado, cabeçudo… Foi uma festa! É muito interessante como a lista de espécies que você registra em um dia pode ser tão diferente da do dia seguinte. De brinde ganhei um lifer, uma espécie que via pela primeira vez, a choquinha-de-flanco-branco.
Passei mais algum tempo passarinhando por outros setores do jardim, mas depois de vários dias nublados o sol atraiu muitos visitantes e perto das 11 horas o lugar estava começando a ficar bastante movimentado. Eu queria muito fotografar o tiê-galo, mas embora tenha encontrado a espécie várias vezes, não me entendi muito bem com a câmera (na verdade eu não gosto muito de fotografar, acabo fazendo isso mais para poder ilustrar o blog). Por sorte, a poucos metros da saída encontrei um grupo de saíras e tiês que estava super entretido contendo uma superpopulação de lagartas. Finalmente consegui o registro!
Em dois dias vi apenas uma pequena amostra da avifauna do Jardim Botânico do Rio. Ao todo há mais de 180 espécies registradas lá. Recentemente foi publicado um guia com as 152 espécies de aves mais comuns do jardim, de autoria da fotógrafa Lena Trindade e do ornitólogo Henrique Rajão. O guia pode ser adquirido na lojinha de souvenirs, que é administrada pela Associação de Amigos do Jardim Botânico.
Já estou de volta a São Paulo, mas mal posso esperar para voltar ao Rio! Quem sabe um dia participar de uma das passarinhadas organizadas pelo COA-RJ, um dos grupos de observadores de aves mais ativos do Brasil e que foi apadrinhado pelo próprio Helmut Sick.
5 Comentários
Bom dia, vcs estão ativos?
Bom dia, tem passarinhando no país todo menos no Rio de Janeiro?
Olá Richard, esse post é justamente sobre o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Acho que não entendi sua pergunta…
Pessoal, quando tem o passarinhando no JB do Rio ?
Oi, Fernando, sempre no último sábado de cada mês. O próximo será 31/ago/24.