Sabe aquela aula de biologia, clássica, sobre como as pavoas escolhem seus parceiros com base no tamanho de suas lindas caudas? Pois é uma tremenda injustiça com os pardais! Para mim, não existe exemplo mais interessante que eles para explicar seleção sexual. Para começar, eita bichinho globalizado este, o pardal. De origem européia e asiática, hoje pode ser encontrado em quase todas as praças e quintais do mundo. São tão urbanos, tão comuns, que quase ninguém presta atenção. Mas estudos revelaram uma sociedade fascinante por trás dessas pequenas aves.
Assim como os pavões, pardais apresentam dimorfismo sexual, embora não tão acentuado. Machos e fêmeas são castanhos, com o ventre claro e acinzentado. Os machos, porém, são mais escuros, além de possuírem uma mancha preta característica na região da garganta. E esta mancha é a chave que rege toda sua sociedade.
No fim do século passado um pesquisador dinamarquês fez observações sistematizadas de vários pardais que viviam na universidade em que trabalhava. Ele se preocupou principalmente em analisar os resultados dos confrontos entre as aves, que na maioria das vezes se dão entre machos. Acabou descobrindo que o tamanho da mancha negra na garganta influenciava muito o resultado da briga. Quando um macho com uma pequena mancha encontrava um macho com uma grande mancha, o primeiro rapidamente desistia, antes mesmo de entrarem em contato direto. Já quando dois machos com manchas de tamanhos parecidos se encontravam, dava-se uma grande luta.
Na natureza isso é muito comum, animais não brigam o tempo todo só para saber quem é mais forte. Isso seria um grande desperdício de energia, fora o risco de vida constante. Mas eles defendem territórios, disputam alimento e querem ser escolhidos pelas fêmeas. Como fazer isso sem provocar confusão a todo instante? Simples: com uma insígnia. As manchas na garganta funcionam como as patentes do exército, quanto maior a mancha, mais alto na hierarquia está o pardal. E lutas desnecessárias são evitadas, já que um pardal pequeno e fraco (portador de uma mancha pequena) perderia facilmente para um pardal grande e forte (exibindo uma mancha enorme na garganta).
Infelizmente, a coisa não é tão simples assim. É difícil dizer até que ponto essa insígnia reflete a verdadeira condição da ave. Mesmo porque não é apenas o tamanho do pardal que importa. Pesquisas mais recentes mostram que a mancha negra pode ser influenciada pela idade da ave, pelos níveis de testosterona circulantes e, possivelmente, por fatores genéticos. Embora os machos dominantes sejam realmente aqueles com as maiores insígnias, não é fácil explicar todos os fatores que o levam a este patamar.
Referências:
Moller, Anders Pape (1987). Variation in badge size in male house sparrows Passer domesticus: evidence for status signalling Animal Behaviour, 35, 1637-1644 DOI: 10.1016/S0003-3472(87)80056-8
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Em um novo estudo sobre as “insígnias” dos pardais, pesquisadores não encontraram evidências que corroboram com a teoria: https://phys.org/news/2018-11-house-sparrow-status-theory-longer.html