Com apenas 283 mil km² (aproximadamente o tamanho do estado do Rio Grande do Sul) o Equador é um dos 17 países com maior biodiversidade do planeta. Mais de 1.600 espécies de aves podem ser encontradas lá, com destaque para cerca de 130 espécies de beija-flores. Não é à toa que Quito é conhecida como a capital dos colibris (palavra de origem guarani), também chamados de “quindes” (em quechua) ou “picaflores” (em espanhol).
Em Quito há beija-flores por todos os lados: representados em estátuas gigantes, murais coloridos e todos os tipos de souvenirs. Um pouco mais difícil é encontrar um beija-flor de verdade voando na área urbana, o que pode ser frustante para alguns turistas (li relatos de visitantes bastante decepcionados com isso, principalmente europeus que nunca viram um beija-flor, pois esta família de aves existe apenas no continente americano). O problema é que Quito é uma cidade pouco arborizada, então é preciso ir até os parques para poder observar aves. Há vários parques urbanos e não tive tempo de conhecer todos, mas se o objetivo é ver beija-flores acho que o Jardim Botânico de Quito é uma das opções mais interessantes. Existe também a alternativa de fazer um tour rápido até Mindo, um vilarejo próximo de Quito e que é um verdadeiro paraíso de beija-flores (logo mais coloco aqui o link para o post sobre Mindo, aguardem!).
O Jardim Botânico de Quito fica dentro do Parque La Carolina, numa área bem central da cidade. O jardim não é grande, mas é muito simpático e bem organizado. Sua grande estrela é o Colacintillo colinegro, esse beija-flor de cauda desproporcionalmente comprida da foto acima. Não é difícil encontrá-lo no jardim, mas é preciso bastante atenção. Pequeno e verde, ele desaparece quando pousa no alto de uma árvore. O pinchaflor da foto à direita não é um beija-flor, mas também se alimenta do néctar das flores.
Mais fácil de ver por lá é o Orejivioleta ventriazul (também conhecido como Quinde Herrero). Ele é lindíssimo e a foto abaixo não chega nem aos pés de suas cores vibrantes.
Na bilheteria do jardim botânico é possível comprar um mini-guia das aves que podem ser observadas lá. São mais de 100 espécies registradas, entre elas muitas migratórias. Também tem algumas velhas conhecidas dos brasileiros, como o tico-tico, o risadinha, o quiriquiri, o pintassilgo e a pomba-de-bando.
Quer ver aves completamente diferentes daquelas encontradas nos parques urbanos de Quito? Não é preciso ir muito longe. Subimos de teleférico até o lado leste do vulcão Pichincha, a quase 4 mil metros de altitude. A vista é deslumbrante (se as nuvens não atrapalharem) e dá para ter uma boa ideia do tamanho da cidade, que é muito maior do que eu imaginava.
Lá em cima a temperatura cai um pouco e encontramos aves que preferem ambientes mais abertos, como a Remolinera Ecuatoriana. Existe uma trilha de alguns quilômetros até o cume do vulcão, mas como chegamos no final da tarde andamos apenas um pequeno trecho. Sofri bastante com a altitude, me sentia extremamente cansada, então foi uma caminhada bem lenta…
Encontramos muitas aves na trilha, e coelhos também! Várias placas lembravam os visitantes de que os animais não devem ser alimentados.
Partindo de Quito é possível visitar vários pontos turísticos próximos, em tours que duram o dia todo. Participamos de uma excursão até o vulcão Cotopaxi, que fica a apenas 70 km de Quito. A caminhada até o refúgio José Rivas, localizado na base do vulcão, não me agradou muito. É extremamente cansativa por causa da altitude, encontramos gente demais na trilha e a paisagem permaneceu encoberta a maior parte do tempo pelas nuvens.
Mas o vulcão fica dentro do Parque Nacional Cotopaxi e a região é linda. Há alguns poucos bosques nativos que restaram e a maior parte da área protegida é coberta por uma vegetação rasteira andina conhecida como “páramo”. Chegando no parque, a primeira ave que avistamos foi um condor, que voava lá no alto, pertinho do cume do vulcão.
Ao final da excursão (que não era específica para birdwatching) fizemos uma parada rápida em uma das pequenas lagoas que existem no parque: a Laguna de Limpios. Foram apenas uns 10 minutos ali, mas foi a parte que mais gostei de todo o passeio. Haviam muitas aves na água ou perto dela: carcará-carunculado (Phalcoboenus carunculatus), quero-quero-andino (Vanellus resplendens), gaivota-andina (Chroicocephalus serranus), carqueja-andina (Fulica ardesiaca) e pato-andino (Anas andium).
A estadia em Quito foi curta e espero poder voltar um dia, a cidade é muito mais interessante do que eu esperava. Mas nosso verdadeiro destino era Galápagos, o famoso arquipélago que tanto impressionou Charles Darwin. Logo mais conto como foi visitar estas ilhas fantásticas!
Em tempo: a foto que ilustra este post é de uma das muitas gárgulas que enfeitam a Basílica el Voto Nacional, no centro histórico de Quito. A foto mostra uma fragata (ou tesourão), mas também há gárgulas de atobás, biguás, iguanas, tartarugas gigantes e outros representantes da fauna equatoriana, com destaque para os animais endêmicos de Galápagos.
Referências
El colibrí: ave emblemática de la capital de los ecuatorianos (El Telégrafo, 12/10/2016)
El colibrí, un emblema natural de Quito (El Comercio, 21/02/2011)