Estar em Galápagos foi uma experiência tão intensa que seria impossível colocar tudo em um único post. Resolvi fazer o seguinte: neste texto apresento um quadro geral do arquipélago e sua fauna diferentona, e nos próximos posts vou contar como foi estar em cada uma das três maiores ilhas que visitamos:
Localizadas no Oceano Pacífico, as ilhas Galápagos ficam há cerca de 1.000 km da costa do Equador, país ao qual pertencem. O arquipélago é lar das famosas tartarugas-gigantes, iguanas-marinhas, biguás-de-galápagos, tentilhões de Darwin e uma porção de outras espécies de animais, e plantas, que somente podem ser encontradas lá. Ou seja, são espécies endêmicas, palavra que vou repetir um bocado de vezes neste e nos próximos posts sobre Galápagos.
As tartarugas-gigantes são provavelmente os animais mais populares de Galápagos. Muito se falou sobre elas em 2012, ano em que uma tartaruga conhecida como Lonesome George morreu no Centro de Pesquisas Charles Darwin, na ilha Santa Cruz. George, o solitário, havia sido encontrado em 1971 na ilha de Pinta e era o último de sua subespécie.
Uma tartaruga-gigante pode sobreviver meses sem alimento. Por esse motivo, elas foram muito utilizadas para abastecer os porões de navios piratas e baleeiros, servindo como fonte de carne e gordura, fácil de estocar. Não bastando a crueldade, a população de tartarugas-gigantes sofreu grande declínio devido a estas práticas (somadas à destruição de seu habitat e a introdução de espécies invasoras nas ilhas), sendo atualmente estimada em apenas 10% da população original.
Hoje existem vários projetos de reprodução e reintrodução de tartarugas-gigantes e aos poucos, muito lentamente, suas populações começam a crescer. De fato, não é difícil topar com uma tartaruga-gigante em Galápagos. Encontramos tartarugas livres em Santa Cruz (existem até mesmo placas de trânsito pedindo cuidado com as tartarugas que podem atravessar a rodovia) e também em Isabela.
Outro animal fácil de encontrar em Galápagos é a iguana-marinha. Em alguns lugares é preciso até tomar cuidado para não pisar nelas. Tranquilas e pacatas, elas passam a maior parte do tempo descansando enquanto se aquecem ao sol. Isto porque, sendo um réptil, a iguana-marinha precisa de uma fonte externa de calor para se aquecer, o que é mandatório depois de passar muito tempo comendo algas nas águas geladas do Pacífico.
O passarinho da foto acima tem o tamanho aproximado de um pardal, só a cauda é bem mais curtinha. Provavelmente é uma das aves mais fáceis de avistar em Galápagos: estão por toda parte, até mesmo nas cidades. Mas poucos turistas que visitam o arquipélago sabem que este passarinho faz parte de um grupo conhecido como “os tentilhões de Darwin”, um exemplo clássico das aulas de Biologia. Talvez você se lembre do seu professor ou professora comentando as adaptações dos bicos dos tentilhões – e de como isso chamou a atenção do naturalista que propôs a teoria da Evolução.
O formato dos bicos dos tentilhões é extremamente variado. Alguns tem o bico mais adaptado para comer sementes, outros são especialistas em insetos e outros em frutos. Há duas espécies de tentilhões que se alimentam de cactos e existe até mesmo um “tentilhão-pica-pau” que utiliza um espinho como ferramenta para pegar insetos nos troncos das árvores.
Acredita-se que todos os tentilhões endêmicos de Galápagos seriam descendentes de uma única espécie que chegou às ilhas cerca de 2 ou 3 milhões de anos atrás. O isolamento geográfico e a competição por alimento são alguns dos fatores que teriam levado à especiação. Algumas espécies de tentilhões ocorrem em várias ilhas (como é o caso de G. fuliginosa), enquanto outras são encontradas apenas em uma ou poucas ilhas (como G. acutirostris, que habita somente a pequena ilha Genovesa).
Common Cactus-finch (Geospiza scandens)
Apesar da fama dos tentilhões, a verdade é que outro grupo de aves teve muito mais importância para Darwin: os Mockingbirds. Quatro espécies do gênero Mimus podem ser encontradas em Galápagos, parentes não muito distantes do nosso familiar sabiá-do-campo. Uma das espécies ocorre apenas na ilha Floreana, outra é encontrada apenas na ilha Española, outra somente na ilha San Cristóbal. A quarta espécie ocorre em todas as demais ilhas (com exceção das três ilhas já mencionadas).
Charles Darwin coletou vários Mockingbirds enquanto esteve em Galápagos, em 1835. Mas só percebeu que não eram todos iguais algum tempo depois, quando chamou sua atenção o fato de que nem todas as espécies de aves registradas em Galápagos podiam ser encontradas em todas as ilhas. Ou seja, a composição das espécies variava de ilha para ilha.
Outra ave icônica encontrada apenas em Galápagos é o biguá-de-galápagos, a única espécie de biguá que não voa. Muito grandes (para o padrão de um biguá) e com asas pequenas e atrofiadas, estes biguás perderam há muito tempo a capacidade de voar. Aparentemente esta era uma habilidade desnecessária em um lugar onde não existiam predadores. O biguá-de-galápagos é encontrado somente na ilha Fernandina e em parte da ilha Isabela. São lugares distantes e pouco acessíveis para o turista usual (a menos que você esteja em um cruzeiro) e infelizmente não tive oportunidade de vê-los.
Mais de 150 espécies de aves já foram registradas em Galápagos, 25 das quais são endêmicas. Outras cinco espécies não são exatamente endêmicas mas o arquipélago é o único lugar onde elas se reproduzem: albatroz-de-galápagos, petrel-de-galápagos, pardela-de-galápagos, pinguim-de-galápagos e gaivota-de-galáp… ops, gaivota-rabo-de-andorinha.
Uma vez que a linha do Equador atravessa algumas ilhas de Galápagos, podemos dizer que o pinguim-de-galápagos é a única espécie de pinguim que pode ser encontrada, ainda que ocasionalmente, no hemisfério norte. Este é um pequeno pinguim, menor que seu parente mais próximo, o pinguim-de-humboldt (que habita o litoral do Peru e do Chile). Tive oportunidade de ver um bando de pinguins na água durante um mergulho com snorkel, mas por esse motivo acabei não conseguindo fotografar. Não tive tanta sorte com outros endêmicos que gostaria muito de ter visto, como o albatroz e o gavião-de-galápagos. Foi uma tristeza só, mas vou explicar melhor nos outros posts.
Uma espécie endêmica fácil de encontrar – e não menos encantadora – é a bela pomba-de-galápagos. Como quase todos os animais de Galápagos, esta pomba é super tranquila e permite bastante aproximação. Muito mansa, a fauna galapaguenha encanta a todos. Poder estar tão próximo de animais silvestres livres e não ser temido é uma experiência sem igual.
Essa proximidade com os animais é ainda mais marcante quando há filhotes por perto. Pais despreocupados não parecem se importar muito com a presença humana. Visitamos colônias reprodutivas de atobás e de fragatas e foi possível assistir até mesmo a dança de acasalamento do atobá-de-pé-azul. E de pertinho, pois estávamos a apenas 2 metros de um dos casais. Manter esta distância mínima é uma exigência do Parque Nacional de Galápagos, assim como não tocar os animais e nem alimentá-los.
Com os bichos tão próximos, tiramos tantas fotos que nem sei o que fazer com elas. Selecionar aquelas que iriam pras listas do eBird foi um desafio enorme, levei dias. Ainda vou escrever especificamente sobre as ilhas Santa Cruz, Isabela e San Cristóbal, mas por enquanto só consegui montar uma pequena galeria de fotos das aves que encontramos por lá.
Para saber mais sobre Galápagos:
Galapagos Conservancy – website
Henry Nicholls (2014) The Galápagos – A natural history. Basic Books, 195 páginas.
Linda J. Cayot (2014) The Lonesome George story – Where do we go from here? Galapagos Conservancy, 22 páginas.
5 Comentários
Muito legal estar em Galapagos. Acabo de voltar de lá e estou tentando identificar alguns pássaros que fotografei.
Oi Marcos! Só vi sua mensagem hoje. Já conseguiu identificar as espécies?
Nossa! Em matéria de Delay estamos juntos kkkk só agora, 9 meses depois vi essa mensagem. Identifiquei sim, pelo menos aquelas que também acorrem no Brasil para poder postar no Wikiaves. Abraço
amei
muito obrigada pelas explicacoes, me ajudou muito no meu trabalho