Morretes é uma pequena cidadezinha do Paraná, situada a cerca de 70km de Curitiba. É muito procurada pelos turistas que querem provar o famoso barreado, prato típico feito a base de carne cozida. Morretes também está incrustada na Mata Atlântica, e fica pertinho do Parque Estadual do Pico Marumbi. A avifauna da região é muito rica, com destaque para algumas espécies ameaçadas, como a jacutinga (Aburria jacutinga), a araponga (Procnias nudicollis), a maria-da-restinga (Phylloscartes kronei), a saíra-sapucaia (Tangara peruviana) e tantas outras.
Passei por lá no fim de Dezembro, mais para conhecer a região do que para passarinhar propriamente. O Parque Estadual do Pico Marumbi é onde termina o Caminho do Itupava, uma trilha histórica que liga o município de Quatro Barras à Morretes, cruzando cerca de 25km de Mata Atlântica. Estamos fazendo planos de fazer esta trilha mais para frente, provavelmente no outono ou no inverno, quando chove menos e o clima fica mais ameno. Pode parecer exagero, mas Morretes é insuportavelmente quente em Dezembro. Não dá pra dormir nem com as janelas escancaradas e um baita ventilador de teto ligado no máximo… Imagine então encarar um trilha dessas!
Chegamos lá no fim de tarde e ficamos perambulando pela cidade, que é cortada pelo rio Nhundiaquara. A primeira coisa que chama a atenção é a quantidade de andorinhas! Andorinhas-serradoras (Stelgidopteryx ruficollis), andorinhas-domésticas-grandes (Progne chalybea) e andorinhas-domésticas (Pygochelidon cyanoleuca) cortam os céus e se aglomeram sobre os telhados e a rede elétrica.
Canários-da-terra (Sicalis flaveola) também são muito abundantes, mais até que os pardais (Passer domesticus). Esta é uma espécie bastante comum em muitas regiões do Brasil, mas escassa aqui em São Carlos, onde moro. Sempre fico meio boba quando vejo tantos de uma vez!
À noite o calor continuava insuportável, por isso aproveitamos a “super” vida noturna da cidade: curtir a vista para o rio, sentados tranquilamente nos bancos de praça, batendo papo até tarde. Não me lembro de ter feito isso desde muito tempo! Prestando um pouco de atenção dava para ouvir os morcegos que voavam perto do rio. E ainda encontramos esse simpático sapinho!
No dia seguinte seguimos para o Parque Estadual do Pico Marumbi. Optamos por uma trilha que leva até uma antiga estação de trem. O caminho é aberto e a caminhada é bem fácil. Mas passarinhar na Mata Atlântica é sempre um desafio bem maior que no Cerrado, onde estou mais acostumada. A vegetação é muito fechada, dificultando bastante a visualização dos bichos. Mas alguns mais atrevidos finalmente apareceram. Uma saíra-sete-cores (Tangara seledon) que forrageava na beira do caminho foi a primeira espécie avistada no dia. Alguns casais de tiê-preto (Tachyphonus coronatus) chegaram bem perto de nós, sem medo nenhum. Um tucano (Ramphastos toco) passou voando.
Em uma curva da trilha a cantoria era tanta que precisei parar para ver. Vários machos de tangarás-dançarinos (Chiroxiphia caudata) estavam fazendo seu show para as fêmeas, e isso também atraiu a atenção de outras espécies. Depois descobri que uma delas era o tangarazinho (Ilicura militaris), que foi o lifer do passeio.
Quase no fim da trilha um sabiá-una (Turdus flavipes) apareceu e logo se foi. Deu tempo de tirar a foto, mas o bico amarelo, tão chamativo, ficou atrás do galho… Na hora lembrei do Blackbird (Turdus merula), a “versão européia” desta ave, que tive a oportunidade de conhecer ano passado. A semelhança é incrível!
Hora de ir embora… mas com gostinho de quero mais. A tristeza só não foi maior porque voltamos para Curitiba de trem, maravilhados com as incríveis paisagens da serra. E o Caminho do Itupava nos aguarda…