Guararema é uma pequena cidade que faz parte da região metropolitana de São Paulo. Com pouco mais de 28 mil habitantes, é um lugar onde ainda dá para encontrar aquela calmaria típica do interior, mesmo estando tão próximo de grandes centros como São José dos Campos e da capital. Guararema também é um bom lugar para observar aves, já que está situada em meio a remanescentes de Mata Atlântica.
Tirei o último final de semana para curtir umas mini-férias por lá e aproveitei para participar da terceira edição do “Avistando Guararema”. O evento é organizado pela prefeitura de Guararema, com o objetivo de incentivar a observação de aves na região. Este ano o evento aconteceu no Parque Municipal Ilha Grande, no centro da cidade. A Ilha Grande é uma ilha do Rio Paraíba do Sul. Lembra muito a Ilha de São Pedro, em São José do Rio Pardo (mas lá a ilha fluvial foi transformada em um pequeno zoológico).
Para chegar ao Parque Ilha Grande é preciso atravessar uma ponte. Esta ponte é ótima para birdwatching, principalmente para ver aves que gostam de água, como o ananaí (um patinho nativo que também é conhecido como pé-vermelho), frango-d’água, jaçanã, lavadeira-mascarada, garça-branca, curutié…
Naquele final de semana havia um grande bando de anus-pretos na margem do rio. Me diverti um tempão observando os adultos que cuidavam dos filhotes, atormentavam as capivaras e faziam uma barulheira que só, como fazem os anus-pretos. Sou muito fã desta espécie! Eles parecem estar sempre mau humorados. Não consigo olhar para a foto abaixo e não pensar em um dinossaurinho…
Chegando à ilha você encontra uma área de mata recortada por pequenas trilhas pavimentadas. A Ilha Grande não é tão grande assim, mas com atenção dá para encontrar uma porção de espécies de aves vivendo ali. Ao todo observei/escutei 46 espécies, mas há muitos outros registros lá no eBird.
O jacuaçu, por exemplo, pode ser encontrado por lá. É uma ave grande, mais ou menos do tamanho de uma galinha. Pode fazer bastante barulho, mas passa a maior parte do dia procurando frutos, silenciosamente, na copa das árvores.
Algumas das aves mais fáceis de observar na Ilha Grande são os sabiás (vi sabiá-laranjeira e sabiá-barranco), tiê-preto, teque-teque, bem-te-vi e bentevizinho-de-penacho-vermelho (este último pode ser difícil de ver no alto das árvores, mas é muito fácil de escutar). Como estamos na primavera, também estavam presentes várias aves migratórias, como o bem-te-vi-rajado e o bigodinho. Estas espécies vêm de longe e ficam alguns meses na região, aproveitando a fartura de alimento.
A Ilha Grande também é lar de muitos esquilinhos!
O “3º Avistando Guararema” começou pela manhã com uma passarinhada, seguida de várias palestras. Difícil foi prestar atenção enquanto uma porção de passarinhos coloridos apareciam na janela: saíra-amarela, tiê-preto e o belíssimo tiê-sangue…
Entre os vários palestrantes, o pessoal da SAVE Brasil falou sobre uma joia rara que somente pode ser encontrada em Guararema e alguns municípios próximos: o bicudinho-do-brejo-paulista. A espécie foi descoberta muito recentemente, em 2004. Como o nome diz, somente pode ser encontrada em brejos. E não vale qualquer brejo, tem que ser brejo limpo e, preferencialmente, paulista (o bicudinho é endêmico do estado de São Paulo). Por ser tão exigente, esta ave encontra-se super ameaçada, já que destruímos ou poluímos a maioria dos brejos que atendiam suas necessidades.
Como eu só passarinhei pela cidade, na Ilha Grande e no Pau D’Alho (outro parque muito próximo do centro da cidade), não foi desta vez que vi o bicudinho… Mas já estou pensando em voltar, adorei Guararema!
Observação 1: a ave na capa deste post é um caneleiro-de-chapéu-preto (Pachyramphus validus), fêmea, também fotografada no Parque Ilha Grande.
Observação 2: não tem nada a ver com passarinhos, mas sabia que em Guararema dá para fazer um passeio em um trem Maria Fumaça?