Quase desisti de escrever sobre este parque. Não que ele não mereça, muito pelo contrário. Mas fiz apenas uma visita rápida, num horário pouco adequado e em péssimas condições de luz. As fotos que cliquei não fazem jus à beleza do lugar e de seus habitantes. Porém, como deve demorar para eu poder voltar lá, resolvi deixar pelo menos uma nota sobre essa passarinhada.
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe abrange os municípios de Tavares, Mostardas e São José do Norte, no Rio Grande do Sul. Formado por lagunas rasas e interligadas, além de dunas, banhados, praias e restinga, o parque apresenta uma paisagem única. É lar de 270 espécies de aves, muitas delas migratórias. Sua importância ecológica é tão grande que o parque é considerado um Sítio Ramsar e, portanto, é reconhecido internacionalmente.
Criado em 1986, o Parna da Lagoa do Peixe ainda não apresenta uma estrutura digna de parque nacional. Não existe portaria e nem controle de acesso. Questões fundiárias permanecem incertas até hoje. Há criação de gado dentro do parque, assim como plantações de pinus, uma espécie invasora. O ecossistema encontra-se extremamente ameaçado. Além dos prejuízos causados pelas atividades agropecuárias, as mudanças climáticas também têm afetado muito a região. Em 2022 e 2023 a estiagem foi tão intensa que a Lagoa do Peixe secou.
As aves migratórias são a grande atração do parque, que costuma celebrar o Festival das Aves Migratórias anualmente, em outubro ou novembro. Se não me engano, as prefeituras de Mostardas e Tavares costumam se revezar na organização do evento. Infelizmente, em 2023 o festival precisou ser cancelado, devido a focos de influenza aviária na região.
Existem algumas trilhas que podem ser percorridas dentro do parque, preferencialmente na companhia de guias credenciados e com automóveis 4×4. Estive na trilha do talha-mar e na trilha das figueiras, que são as opções mais “fáceis”. Tinha chovido bastante na noite anterior e encontrei as estradas de terra cheias de poças e com muita lama, mas havia pessoas trafegando ali em carros sem tração nas quatro rodas. Não recomendo, no entanto.
Era dezembro e o Sul do país atravessava mais uma onda de calor. Mas, mesmo começando a passarinhar bem tarde, com o Sol já a pino e um calor insano, consegui encontrar bastante bicho! Minha grande alegria foi ver muitas caraúnas (Plegadis chihi), essa ave de bico longo que ilustra a capa deste post. É uma espécie que ocorre no estado de São Paulo, mas que eu ainda não tinha tido a oportunidade de ver. Lá no Rio Grande do Sul ela é uma ave bem mais comum.
As fotos a seguir foram cuidadosamente selecionadas entre centenas de cliques que fiz na tentativa de captar algumas imagens decentes. Mas a luz estava péssima e a maioria das aves estava distante. Avistei capororoca, maguari, flamingo, ema, tachã, saracuruçu e algumas marrecas, mas sem chance alguma de registrá-los apropriadamente (pelo menos não com minhas precárias técnicas fotográficas, rs).
Vi vários maçaricos diferentes, mas tenho muita dificuldade na identificação deste grupo de aves. Durante a pandemia cheguei a fazer um curso online de identificação de aves limícolas, oferecido pela Save Brasil. Desde então tive poucas oportunidades de treinar o olho, e acabo sempre na dúvida. O que é super normal e, como podem ver, não impede ninguém de passarinhar por conta própria. Para falar a verdade, gosto bastante do desafio!
Agora é esperar pelo próximo festival de aves migratórias e tentar planejar um retorno ao parque. A Lagoa do Peixe é realmente tudo que sempre ouvi falar: um lugar singular.
1 Comentário
As condições de visitação são um reflexo triste de muitas unidades de conservação brasileiras. Espero que com o tempo as prefeituras se organizem para uma co-gestão com o ICMbio e melhorem as condições.
Feliz que você não desistiu da postagem, nunca tinha ouvido falar desse parque!