Passei o final de semana na cidade de São Paulo e aproveitei para inaugurar meu Passaporte Aves de São Paulo. Estive no Parque Villa Lobos no dia 11 de Janeiro, pela manhã. Eu já conhecia o parque de longa data, pois até 2014 era ali que acontecia o Avistar. Acho que foi lá que participei de minha primeira passarinhada em grupo. Também foi onde vi pela primeira vez um pintassilgo.
O Parque Villa Lobos é grande e bastante arborizado. Difícil de acreditar que uma parte daquela área já foi um depósito de lixo! A implementação do parque começou a ser discutida em 1987 (ano do centenário de nascimento do maestro e compositor Heitor Villa-Lobos) e as obras iniciaram-se em 1989. O projeto original previa a construção de auditórios e salas de aulas para ensino de música e balé, além de um Teatro de Ópera. Estes edifícios acabaram não saindo do papel, mas hoje o parque conta com uma grande biblioteca, um orquidário, uma passarela elevada (boa para observar aves no alto das copas das árvores) e longos percursos para caminhar ou andar de bicicleta.
Era sábado e eu esperava encontrar uma multidão no parque, mas parece que o sol afugentou as pessoas. Fazia muuuuito calor! Bem diferente do clima ameno do mês de Maio, época em que eu costumava ir até o parque para curtir a programação do Avistar. Acho muito interessante essas mudanças ao longo das estações, pois encontrei um parque diferente daquele que habitava minha memória. Por exemplo, agora em Janeiro o lugar está cheio de filhotes!
Os pequenos quero-queros são fofos, mas é melhor não se aproximar muito. Seus pais podem ficar bastante agressivos nesta época do ano. Há muitos quero-queros nos gramados, não é a toa que esta espécie ilustra a capa do Guia de Aves do Parque Villa-Lobos, criado pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo. O livreto abrange 28 espécies de aves que podem ser vistas com facilidade dentro do parque.
Apesar do calor, registrei 26 espécies de aves (veja a lista completa aqui). Se você conferir o eBird hoje, encontrará 73 espécies registradas no parque, mas há poucas listas cadastradas. Certamente a área abriga mais aves. Colegas observadores, cientistas cidadãos, vamos publicar nossos achados? São dados importantes que podem ajudar na luta pela preservação de nossas aves! Mesmos as listas com espécies comuns são de extrema importância.
Visitar o Parque Villa Lobos e não encontrar um único sabiá-laranjeira, por exemplo, deve ser impossível! Eles são muito numerosos lá. Mas será que a população de sabiás-laranjeira flutua ao longo dos meses? Ou ao longo dos anos? Dados disponibilizados em plataformas como o eBird, o Wikiaves e o iNaturalist são muito úteis para pesquisadores que estão estudando estas aves.
Vira e mexe dá até para encontrar algumas raridades, com este sabiá-laranjeira leucístico (ou albino?) que observei no Parque Villa Lobos há quase seis anos. O leucismo é uma mutação genética que impede a deposição do pigmento melanina (marrom/preto) nas penas. Pode afetar todas as penas ou apenas algumas delas. Já o albinismo é uma mutação caracterizada pela incapacidade de produzir a melanina, o que afeta as cores tantos das penas como da pele, do bico, das patas e dos olhos. Uma ave albina não é necessariamente branca, pois outros pigmentos podem continuar sendo produzidos normalmente. Mas seus olhos são sempre vermelhos ou rosados, pois os vasos sanguíneos ficam visíveis devido a falta de melanina.
Aves albinas são extremamente raras na natureza. Não tenho certeza da cor dos olhos deste sabiá-laranjeira (parecem escuros, mas talvez seja algum reflexo da luz?) mas foi um belo achado! Para quem se interessa pelo assunto, vale a pena ler este texto da Audubon.org e este do Sibley Guides (ambos em inglês).
Revisitar o Parque Villa Lobos trouxe muitas boas lembranças de quando descobri o mundo dos observadores de aves (antes eu já trabalhava com aves, mas só convivia com biólogos). Simbolicamente, iniciei minha meta de conhecer as Unidades de Conservação listadas no Passaporte Aves de São Paulo justamente pelo parque que representa o começo da minha vida de birdwatcher!
Foto da capa: canário-da-terra (Sicalis flaveola), macho