Sabe aquela cabana no meio do mato, distante de tudo, pra onde a gente quer “fugir” de vez em quando? Pois ela fica lá no Sítio Cotinga! Construída toda em madeira, super aconchegante e, o mais importante, em meio a Mata Atlântica. O vilarejo mais próximo (Catuçaba, distrito de São Luiz do Paraitinga) fica a aproximadamente 10 quilômetros dali.
O Sítio Cotinga é mantido pelo Rubim e pela Giovana, um ecólogo e uma bióloga que abandonaram a cidade em busca de uma vida mais conectada à terra. Eles estão recebendo hóspedes deste 2019. Algumas pessoas procuram o sítio pela paz e tranquilidade que o isolamento proporciona (o lugar é abençoado pela completa ausência de sinal de celular) e outras, como eu, também aproveitam para passarinhar!
O sítio fica em uma região conhecida como Sertão do Pinga, entre 1500 e 1650 metros de altitude. Ele abrange uma boa porção de mata serrana, úmida e cheia de musgos e líquens, que faz fronteira com o Parque Nacional da Serra do Mar. É lugar para ver aves que gostam de viver nas montanhas, como o quete-do-sudeste, a tesoura-cinzenta e o sanhaço-frade.
O beija-flor-de-topete-verde é outro habitante das matas serranas fácil de encontrar por lá. Da primeira vez que visitei o Sítio Cotinga, pude vê-lo da janela da cabana. Lá também dá para ver o beija-flor-de-papo-branco, o beija-flor-rubi, o beija-flor-de-fronte-violeta e o rabo-branco-de-garganta-rajada.
Algumas aves são figurinhas carimbadas e super fáceis de encontrar na clareira ao redor da cabana: bico-virado-carijó, arapaçu-escamoso, tiê-preto, tororó, verdinho-coroado…
A paisagem sonora é muito marcante. Agora em Dezembro era quase impossível não ouvir as arapongas, ao longe. De noite escutei várias vezes o urutau e acordei com o inhambuguaçu. Durante o dia predomina o canto inconfundível do pula-pula-assobiador e as batidas na madeira do pica-pau-verde-carijó. Dentro da mata, o lek barulhento de tangarás-dançarinos encanta qualquer um. Com sorte, dá para escutar o barulhinho típico de um pequeno passarinho cujo nome, muito apropriado, é estalinho.
Na vizinhança do sítio há muito pasto abandonado (ou não) e tomado por grandes samambaias do gênero Pteridium. Elas são consideradas uma praga e são tóxicas para o gado. Caminhando por estas pastagens, encontramos aves que preferem ambientes mais abertos, como o joão-teneném, o trinca-ferro e muitos tico-ticos.
A ave saudade ainda não consegui avistar, mas para mim a estrela do Sítio Cotinga é a tovaca-de-rabo-vermelho. Geralmente tímida, lá esta ave pode ser vista com bastante facilidade na trilha dentro da floresta. Agora em Dezembro a espécie estava em pleno período reprodutivo e tive a chance de observá-las forrageando a serrapilheira e levando alimento até os filhotes, que estavam abrigados em um oco no alto de um árvore. Este ninho foi um grande achado da Giovana e do Rubim, visto que existem poucas descrições do mesmo na literatura.
Raramente visito o mesmo lugar mais de uma vez. Afinal, o mundo é muito grande e há tanto para conhecer! Mas gostei demais de poder passarinhar tranquila em um lugar tão rico em espécies. Poder andar sozinha e despreocupada numa mata tão bela é algo que não tem preço. Estive no Sítio Cotinga em Março e agora, novamente, em Dezembro. Planejo voltar outras vezes, pra ficar mais tempo e poder vivenciar a região durante o outono ou inverno.
2 Comentários
Olha só o comportamento de forrageio da tovaca-de-rabo-vermelho, num vídeo feito pelo Paulo Rubim: https://www.youtube.com/watch?v=xGyikFGrW5M
Me senti como se estivesse participando dessa observação de pássaros. Obrigada Natalia pela interessante descrição.