Em 2018 uma equipe de pesquisadores argentinos levantou uma questão muito interessante: por que a entrada de alguns ninhos de joão-de-barro localiza-se à direita e em outros encontra-se à esquerda? Seria obra do acaso ou haveria algum motivo em especial para que a ave tomasse essa decisão arquitetônica?
Para tentar desvendar o mistério, os pesquisadores criaram uma iniciativa de ciência cidadã chamada Projeto Hornero. Moradores dos cinco países onde o joão-de-barro pode ser encontrado (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai) podiam participar instalando um aplicativo em seus celulares e registrando por meio dele os ninhos que encontrassem. Na época escrevi sobre o projeto aqui no blog e, claro, participei coletando dados sobre os ninhos que localizei aqui na minha cidade.
Agora em Maio de 2022 foi publicado um artigo científico que divulga os resultados do Projeto Hornero. Com a ajuda de mais de 1.200 pessoas, foi possível registrar 12.606 ninhos de joão-de-barro! Esse enorme conjunto de dados permitiu avaliar que a maior parte dos ninhos têm a entrada localizada do lado direito: 12% a mais. Não é, portanto, ao acaso. Descobriu-se também que essa “escolha” do lado da entrada não está relacionada com fatores ambientais, tais como a orientação do sol, a existência de cobertura sobre o ninho, a altitude ou as médias de temperatura e precipitação.
Sabe-se que casais de joão-de-barro não reutilizam o ninho, mas constróem um novo ninho a cada estação reprodutiva, dividindo o trabalho igualmente. O Projeto Hornero concluiu que um mesmo casal costuma fazer ninhos sempre do mesmo estilo, com a entrada localizada sempre do mesmo lado. Ainda não é possível dizer se esta é uma “decisão” do casal, do macho ou da fêmea. Talvez seja o resultado de um comportamento mais destro ou mais canhoto dessas aves, o que poderia ser explicado pela genética.
Como toda boa pesquisa científica, o estudo respondeu algumas perguntas e gerou muitas outras. Foi um prazer imenso poder colaborar, ainda que de maneira tão singela, com o Projeto Hornero. A equipe foi sempre muito atenciosa com o público, respondendo perguntas e incentivando a participação de todos. Aguardo ansiosamente por novos projetos desses pesquisadores tão criativos!