Em 1822 uma cegonha-branca foi abatida por um caçador em Klütz, no norte do que hoje é a Alemanha. O curioso é que essa ave tinha uma flecha de 80 cm atravessada no pescoço. Observando as características do artefato, descobriram que a flecha era oriunda da África Central, algo em torno de 5 mil quilômetros de distância de Krütz. Essa cegonha foi apelidada de Pfeilstorch e hoje faz parte da coleção zoológica da Universidade de Rostock.

Mas por que essa cegonha azarada é tão importante? Naquela época, sabia-se muito pouco sobre a migração das aves. As pessoas notavam que algumas espécies desapareciam durante parte do ano, mas ninguém sabia muito bem o que acontecia com elas. As teorias eram as mais loucas: havia quem acreditasse que as aves passavam o inverno hibernando no fundo dos lagos congelados, que uma espécie se transmutava em outra espécie, que elas iam para a Lua… Quando a hoje famosa Pfeilstorch apareceu na Alemanha, ela provou que algumas aves podiam percorrer, literalmente, milhares de quilômetros! Sua descoberta alavancou os estudos sobre migrações.

Meses antes de viajar, entrei em contato com a coordenação da coleção zoológica para confirmar se a Pfeilstorch ainda estava lá. Eles me responderam que eu não teria como deixar de vê-la: ela encontra-se em exibição logo após a entrada do museu, em destaque. Ela está representada até mesmo no logotipo da instituição.
A coleção foi fundada em 1775 e é muito interessante. Tem ênfase em animais aquáticos, peixes, moluscos, aves e insetos. Segundo o site da Universidade de Rostock, cerca de 5 mil holótipos (espécimes de referência que foram utilizados para descrever espécies novas para a ciência) estão armazenados ali!



Rostock não está na mira do turismo internacional, mas recebe turistas (acredito que em sua maioria alemães) que são atraídos por uma praia banhada pelo Mar Báltico. Na região também há áreas preservadas com trilhas (como Rostocker Heide e Gespensterwald, conhecida como a “Floresta Fantasma”), que infelizmente não tive tempo de conhecer. Gostaria de poder voltar um dia, é uma cidade simpática e foi bom estar em um lugar não tão turístico da Europa; senti que isso mudou completamente a maneira como interagi com as pessoas dali.
Referências
BARBOSA, K. & LIMA, N. (2025) Aves migratórias no Brasil. Editora Laranja Original.
Kinzelbach, R. (2003) Der Pfeilstorch in der Zoologischen Sammlung. Der Sprössling, 3, 9-10. Disponível em: https://web.archive.org/web/20150213064131/http://www.biofachschaft.uni-rostock.de/fileadmin/MathNat_Bio_Fachschaft/Sproessling_Nr._3_SS03.pdf . Acesso em dez. 2025.
SCHÜZ, E. (1969) Storks and other birds carring arrowheads. Short Notes, Ostrich: Journal of African Ornithology, 40:1, 16-28, DOI: 10.1080/00306525.1969.9634321