(…) Mas o Livro Marrom era algo diferente: um esforço cooperativo de um vasto grupo de cientistas, muitos dos quais viveram sua vida profissional inteira sob a influência de The theory of island biogeography, todos eles concordando que o mundo biológico estava sendo feito em pedaços e que alguma coisa precisava ser feita. Estes cientistas estavam unidos por um profundo senso de perda contínua. Perceberam que com cada novo hectare de ecossistema destruído e com cada espécie exterminada, o universo biológico ao qual haviam se dedicado intelectualmente (e emocionalmente) tornava-se menor.
David Quammen, O Canto do dodô, pág. 578
O “livro marrom” ao qual o autor se refere é o Conservation biology: an evolutionary-ecological perspective, publicado em 1980. Com pouco mais de trinta anos hoje, este livro foi uma das primeiras publicações científicas a tratar da problemática da conservação ambiental de forma mais abrangente. A história da Biologia da Conservação é, portanto, bastante recente, o suficiente para que David Quammen pudesse entrevistar alguns de seus principais personagens e contá-la em detalhes no livro “O canto do dodô”.
Ao longo de anos de pesquisa historiográfica, o jornalista conversou com autoridades como Edward O. Wilson, Jared Diamond, Thomas Lovejoy, Michael Soulé, Dan Simberloff. Outros, como o naturalista do século XIX Alfred Russel Wallace (co-autor da teoria da evolução, geralmente atribuída apenas a Darwin) ele não pode entrevistar, mas o primeiro capítulo do livro é em sua homenagem.
David Quammen relata desde o dia-a-dia puxado dos pesquisadores de campo (que o diga Wallace!) até as intrigas acadêmicas, que foram tão importantes para o desenvolvimento das teorias que deram base para a Biologia da Conservação. Mas, mais do que um punhado de histórias curiosas, o livro demonstra como as circunstâncias afetaram a vida e, consequentemente, as constribuições de cada cientista.
O tom do texto é bastante informal, principalmente quando o autor fala de suas experiências ao redor do mundo. Para entender melhor a extinção do dodô, ele foi até as Ilhas Maurício. Procurou o tigre-da-tasmânia na Austrália; acompanhou pesquisas sobre lêmures em Madagascar. Também esteve no Brasil. Veio conhecer o experimento em larga escala sobre decaimento de ecossistemas idealizado por Thomas Lovejoy na Amazônia. O estudo de uma primatologista sobre o ameaçado muriqui o levou até a Mata Atlântica. No meio do caminho, foi assaltado no Rio de Janeiro.
Gostei demais de O canto do dodô. Como o livro é enorme e muito denso, precisei ler em doses homeopáticas. Até porque muitas vezes a leitura ficava cansativa, o autor exagera bastante nos detalhes. Mas explica teorias complexas numa linguagem agradável, bem-humorada. Até se desculpa quando precisa falar de números e equações!
Sobre o livro:
O canto do dodô
Autor: QUAMMEN, David
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2008
1 Comentário
Estou quase terminando. Faltam 200 pags.
[]s,
Roberto Takata