Descobrir este livro foi uma agradável surpresa. Estava andando pelo centro antigo de Chiang Mai quando passei por um sebo. Existem muitas lojas de livros usados na parte mais turística da cidade, mas esse sebo chamou a atenção pela quantidade de livros. Quando entrei não sabia nem para onde olhar, todas as prateleiras lotadas, até o teto. Só um livro se destacou: The Bluebird Effect – Uncommon bonds with common birds. Ele estava em cima de uma pilha de guias turísticos, bem na altura dos meus olhos.
Minha primeira impressão é que se tratava de alguma história bobinha. Comecei a folhear e as ilustrações me surpreenderam. Quase todas as páginas são recheadas de desenhos, um mais lindo que o outro. Mesmo os rascunhos mais simples, feitos à lápis, são de uma riqueza de detalhes impressionante. Pensei comigo mesma: quem escreveu este livro realmente gosta de passarinhos! Nunca tinha ouvido falar da autora (e também ilustradora), Julie Zickefoose. Resolvi arriscar a leitura.
Descobri que Julie é bióloga e escreve regularmente para a Bird Watcher’s Digest, uma das maiores revistas para observadores de aves dos Estados Unidos. Ela também é reabilitadora de aves há mais de 30 anos. A maior parte das histórias contadas no livro são sobre filhotes órfãos e aves feridas que ela ajudou e que, em sua maioria, puderam voltar à liberdade.
O que mais me encantou foi a maneira como a autora escreve. Ela entra em detalhes minuciosos sobre os desafios de cuidar de cada espécie, citando particularidades sobre os alimentos mais adequados e o desenvolvimento motor dos filhotes. Mas o livro não se assemelha nem um pouco com um manual de criação de aves silvestres. São relatos pessoais, carregados de emoção. Mas ela é uma profissional e sabe o lugar destas emoções, entende perfeitamente a relação que estabelece com cada ave. Mesmo quando surgem pensamentos antropomórficos Julie deixa isso muito claro.
O pássaro azul que dá nome ao livro é o Eastern Bluebird (Sialia sialis), que pertence à mesma família que os sabiás. Julie também fala de andorinhas, estorninhos, beija-flores, sanhaços, pombas, aves de rapina e, por quê não, até mesmo de um urubu. Com poucas exceções a maioria das espécies que o livro aborda são encontradas apenas na América do Norte. Mas a escritora fala bastante de sua experiência como estagiária no INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e o último capítulo é dedicado a um maracanã-guaçu (Ara severus).
Gostei demais do livro. Admiro a enorme experiência de Julie e, principalmente, sua dedicação. O que pensei que seria apenas uma leitura leve e sem compromisso virou um verdadeiro livro de referência. The bluebird effect só tem dois defeitos: ainda não tem tradução para o português e bem que podia ser mais leve, não vai ser fácil achar espaço na mala pra levar…
Sobre o livro:
The Bluebird Effect – Uncommon bonds with common birds
Autora: Julie Zickefoose
Editora: Houhton Mifflin Harcourt
Ano: 2012